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21 de jul. de 2015

Da drogadição emocional

Há muito tempo não escrevo aqui. Os motivos são vários. Mudanças de trabalho, de casa, de família, de tudo, me levaram a um tempo que não foi eatamente ocioso, mas de reflexão e autoanálise e, por hoje, minha passagem aqui é para dizer das coisas que mudaram e do que ainda precisa mudar. Então... Vamos lá!


O tempo inexoravelmente escoa, como foi no princípio e será até o fim.
E com a passagem do tempo, mais perceptíveis se fazem os danos deixados no rastro febril de uma relação tóxica. Sim. Sou uma sobrevivente. Veterana de uma guerra pessoal, silenciosa e oculta.
O que resta após o término é uma mistura estranha de orgulho, coragem, derrota e medo.
Difícil compreender? Eu explico.
Uma relação tóxica mina espaços antes férteis e deixa rastros de desertificação onde a realidade se mescla ao medo e deixa tudo turvo. O cone de silêncio deste furação é habitado unicamente pelo guerreiro solitário que retorna da guerra contra si mesmo e contra o domínio inimigo. Mas, se ao seu redor tudo jaz em silêncio, dentro dele coabitam sentimentos conflitantes que, por mero respeito à matemática, se anulam e mantém o guerreiro em suspensa animação. É importante ressaltar que, se o orgulho de finalmente ter saído dos portais do inferno está lá, também o sentimento de derrota por ter-se deixado abater mantém-se firme no propósito de anulá-lo. Se a coragem para seguir em frente se apresenta de armas em punho e um farnel repleto de sementes de tempos melhores está em sua bagagem, também o medo deixado pela sensação de deja vú que me assombra a cada sorriso de anuência, a cada gesto de carinho... a cada fala validante... a cada projeto sonhado em conjunto...
Se ontem o inimigo era uma presença tóxica externa, hoje o inimigo é algo que reside em mim mesma. O cone do silêncio nada mais é do que a fortificação das minhas defesas que se organizaram de forma a construir a meu redor um verdadeiro campo de força quase intransponível, que transforma cada feito, cada dito, cada olhar em uma arma pronta a disparar contra um alvo certo prestes a ruir... se você acha que este alvo é meu coração... lamento (mais por mim do que por você) mas está enganado. O alvo em questão é minha sanidade mental, posto que, atingida em cheio por uma relação tóxica assim duradoura e prolífica, passou a duvidar do tudo, do todo, do ar e do mar, de cada simples olhar, de cada gesto de pretenso amor... Que já aprendeu a não confiar mais em coisas que antes eram tão arraigadas a minha natureza e tão fortalecidas em minha autoimagem. Os anos ouvindo das desditas de ser quem sou (o que conscientemente sei ser simples forma de manipulação) me fez aprender a duvidar de minha própria capacidade, de coisas simples que sempre dominei sem dificuldade, refletindo-se hoje em minha vida profissional e pessoal de maneira aparentemente irremediável. Digo aparentemente por saber que minha natureza guerreira não se dispõe a depor armas sem luta contra essa sombra que me acompanha a cada momento, e que sei, será minha eterna oponente neste duelo que há de se encerrar no dia em que cerrar meus olhos.
Para aqueles que estão dentro de uma relação tóxica um alento: É possível sobreviver a tudo isso!
Para aqueles que estão em um relacionamento ou buscam por isso, um alerta: estejam sempre alertas. Jamais deixem de discutir ou expressar o que os fere. Jamais se permitam ser manipulados a ponto de não terem muita certeza do que é você e do que é o que se faz o desejo de outro projetado em quem você é. Por que, quanto mais inseguro, manipulador ou perverso for seu parceiro, menor ele desejará que você seja.
Existe vida após a morte? Bem... isso eu não sei. Mas, para quem viveu as dores de uma relação tóxica, o restante do tempo é vivido como se vivencia o fim de qualquer outra dependência tóxica. Em eterna vigília... Então:
SÓ POR HOJE, não vou me permitir ao sofrimento.
SÓ POR HOJE, não vou pemitir que ninguém me reduza a algo menor que eu mesma.
SÓ POR HOJE, não vou pemitir que o mal que me foi feito afaste de mim o amor que mereço receber.

SÓ POR HOJE... Serei tão feliz quanto puder ser.