Amigos:

29 de dez. de 2014

Até 20% dos adolescentes e adultos jovens já experimentaram a automutilação




Associação Americana de Psiquiatria estuda considerar o comportamento como transtorno psiquiátrico

Carolina Cotta - Estado de Minas

Publicação:10/12/2014 





"...eu estava me apunhalando, realmente me atacando com a chave de fenda e aquela dor física que eu estava causando foi melhor que qualquer droga que o hospital tinha. Estava fazendo todo o resto ir embora.A dor, a dor física, estava fluindo pelas minhas veias como heroína, e eu estava entorpecida, imune a todo o resto. Eu não pude sentir nada além de dor, e eu sabia que eu tinha achado um jeito de me salvar" - Trecho do livro Willow, de Julia Hoban


“Não lembro da primeira vez que me cortei, mas eu sentia uma angústia muito grande e não sabia como lidar com aquilo. Em algum momento, comecei a me arranhar e depois a me cortar. Nunca foi algo para chamar atenção, eu escondia. Também não sentia dor, mas aliviava meu sofrimento.” As lembranças de adolescência da bióloga Carolina Costa, hoje com 25 anos, ilustram a triste realidade das pessoas que se automutilam para enfrentar sentimentos com os quais não conseguem mais lidar. Não existem estudos epidemiológicos no Brasil sobre a incidência de autolesão, mas pesquisas feitas no exterior mostram que a prática vem crescendo nos últimos anos. Dados mundiais, considerando apenas adolescentes e adultos jovens, mostram que de 17% a 20% já tiveram, em algum momento da vida, tal comportamento.

Segundo a psiquiatra da infância e da adolescência Jackeline Giusti, responsável pelo ambulatório de adolescente e automutilação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, o DSM-5, a automutilação é classificada como transtorno psiquiátrico com necessidade de estudos futuros. “Há uma tendência em considerar esse comportamento como um transtorno psiquiátrico por si só, e não mais como comportamento relacionado a outros problemas”, adianta a especialista. Já na Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), ela é tida como transtorno do controle do impulso não específico, ou como um dos sintomas de transtornos de personalidade como o borderline.

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), classificado pelo psicanalista Adolph Stern como uma patologia entre a neurose e a psicose que gera uma disfunção no metabolismo cerebral, desintegrando o ego e gerando um sentimento de perda desesperador, é o caso da personagem de Débora Falabella na minissérie Dupla identidade, da Globo. Na trama, a produtora de moda Ray arranha os braços até sangrar muito quando o namorado Edu, o psicopata serial killer vivido por Bruno Gagliasso, some.

Por outro lado, segundo Giusti, há a tendência de desvincular a automutilação de transtornos de personalidade, como o borderline. “Transtorno de personalidade não tem muito tratamento, seu controle não é algo direto. Tem muito paciente que se automutila e não é borderline. Primeiro, porque adolescente nao tem transtorno de personalidade, porque sua personalidade ainda não está formada. Tem, no máximo, traços”, explica.

A automutilação geralmente começa na adolescência e é mais comum nessa faixa etária, mas pode se prolongar até a vida adulta. Um estudo australiano acompanhou, por oito anos, pessoas que começaram a se automutilar ainda jovens e revelou que sintomas depressivos e suporte familiar fraco seriam fatores determinantes dessa persistência do comportamento. O auto-flagelo na adolescência é tema do recém-lançado livro Willow (Editora LeYa), da norte-americana Julia Hoban. Voltado para o público infanto-juvenil, o romance conta a história da personagem que dá nome ao livro, que começa a se cortar para se livrar do sofrimento e da culpa de ter causado a morte dos pais, que faleceram em um acidente de carro em que ela dirigia.


O PANO DE FUNDO 

A pessoa que se automutila, com frequência, refere-se a uma tensão anterior. Segundo a psiquiatra Jackeline Giusti, o ato de se machucar, se morder, se bater – o mais comum é se cortar e se queimar – dá um alívio a quem o pratica. Isso porque o corte, ou qualquer outra lesão no corpo, libera endorfina, mesmo hormônio que dá sensação de bem estar após o exercício aeróbico, por exemplo. Alguns estudos sugerem que quem se automutila liberaria, em função do estresse que antecede o ato, uma quantidade maior do hormônio que outras pessoas. Outra hipótese é a de que uma pré-disposição genética poderia estar relacionada a uma maior liberação de endorfina, o que provocaria uma sensação de bem-estar e não de dor.

Carolina Costa começou a se cortar aos 12 anos. Naquela época, em função da profissão da mãe, se mudava várias vezes de cidade ou de escola, o que, para ela, foi determinante para se tornar retraída e tímida. “As mudanças trouxeram muitos problemas. Não criava raiz, não criava vínculos, não tinha muitos amigos para compartilhar questões mais pessoais”, lembra. Discussões na família ou mesmo uma cena vista na televisão que a entristeciam começaram a ser gatilhos para o ato de se arranhar e depois experimentar cortes mais elaborados, com tesoura, compasso e lapiseira, até passar para a faca. “Não tinha muito padrão. Algumas vezes, os cortes eram mais profundos; em outras, mais superficiais. Dependia da angústia que eu sentia. A maioria das vezes, fazia cortes rápidos e repetitivos no mesmo lugar. E eu não sentia dor”, lembra.

A preocupação com a ansiedade de Carolina fez a mãe levá-la a um médico ortomolecular, que pediu para ficar sozinho com a adolescente, na época com 14 anos. “Aquilo me deu confiança para contar da angústia que eu sentia e com a qual não sabia lidar.” O acolhimento do especialista foi marcante para a paciente, que se lembra de ele explicar que pessoas depressivas como ela, e com transtorno de ansiedade, seriam mais sensíveis e intolerantes a injustiças, que não conseguiam ser superficiais. Segundo Giusti, é comum que a automutilação esteja mesmo associada a depressão e ansiedade, daí a terapia ser essencial na abordagem do problema. Carolina parou de se cortar com 17 anos, mas se tratou até os 19 anos. Diminuiu a frequência da automutilação desde que começou a fazer a terapia e a se medicar.

Segundo Fátima Vasconcellos, diretora médica do Hospital Geral da Santa Casa do Rio de Janeiro, o tratamento é com terapia cognitivo-comportamental e medicamentos antidepressivos, como inibidores seletivos de recaptação de serotonina. “É fundamental que as pessoas reconheçam que isso é uma doença e, principalmente, que é tratável”, alerta. Para a especialista, os pais devem ficar atentos para levar os filhos a um especialista se desconfiarem de uma automutilação. Também é preciso observar as comunidades das redes sociais que dão apoio a esses adolescentes, mas também trocam experiências de como se mutilar. “Infelizmente, a internet é uma extraordinária ferramenta tanto para o bem quanto para o mal. Sempre tem pessoas estimulando comportamentos autodestrutivos, inclusive orientado como fazê-lo de forma mais eficiente”, chama a atenção Fátima.

A forma como esse problema é abordado pelos adultos é muito importante. Educadores que desconfiarem do comportamento em alguma criança ou adolescente devem procurar os responsáveis. Segundo Giusti, é a oportunidade de saber se a família está enfrentando algum problema em casa que possa estar desencadeando o comportamento. Mas o mais importante é não reforçar o estigma de que o paciente faz aquilo para chamar a atenção, porque geralmente ele faz escondido, mesmo que em um segundo momento possa usar aquilo para manipular os pais. “Se o pais descobrirem que seu filho está se cortando, a regra é básica: olhe para ele como se ele estivesse chorando e pergunte o motivo do sofrimento. O problema não é o corte. Ninguém feliz se corta. É preciso descobrir o sentimento que está por trás daquilo”, alerta a psiquiatra.


26 de dez. de 2014

Sobre Dupla Identidade.




Um dia eu estava conversando no WhatsApp e aparece a mensagem: "Glória Perez deixou uma mensagem pra você". E foi assim que comecei a minha história com o seriado Dupla Identidade. No começo eu não acreditava que a coisa iria tão longe. Sabe quando é muito bom pra ser verdade? 

A cada e-mail trocado com a Débora, com a Glória, a cada pergunta respondida, foi crescendo a minha ansiedade, mas insistia em manter os pés no chão. Se eu voasse muito alto, podia acabar caindo feio, na minha cabeça. E não estava ajudando pensando em aparecer na TV, na internet, enfim. Eu só queria ajudar. Só a visibilidade para o transtorno que o seriado traria seria suficiente para que eu fosse recompensada.

A partir de julho, tudo aconteceu rápido: apareci no GSHOW, Fátima Bernardes, enfim... Graças à Glória eu hoje posso mostrar minha cara, meu nome, minha luta. Eu posso tatuar o símbolo do blog no braço, eu posso dizer que tenho o Transtorno de Personalidade Borderline e mesmo assim trabalho, ganho meu dinheiro, pago minhas contas. Que faço terapia sim, que tomo remédio sim, e que ninguém pode usar isso contra mim. Posso lutar contra o estigma com minha própria voz.

E a Ray foi nossa voz. Cada vez que eu a via ali, chorando, se cortando, confusa, angustiada, enraivecida, eu me via, exposta nas minhas fraquezas e qualidades, como tantos outros que com certeza sentiam a mesma coisa. Ela foi nossa primeira porta para que o Brasil soubesse que não somos simplesmente dramáticas e chamadoras (es) de atenção. Amei e sofri cada minuto. 

Por que estou contando tudo isso aqui? Porque o que aconteceu comigo é prova de que a vida reserva coisas para nós, e não fazemos idéia do que seja. Quando eu criei este blog eu estava num lugar muito escuro. Eu me cortava diariamente. Pensava em morrer sempre. Não saia de casa. E esse mesmo blog me salvou, quando a maioria daqueles que eu conhecia me virou as costas. Se alguém me dissesse que menos de dois anos após criar este espaço eu estaria na Globo, eu ia rir muito, afinal de contas, não achava sequer que estaria viva.

Foi no ajudar pessoas que me ajudei, me levantei e por isso luto, dia após dia. O blog transformou minha dor em troféu. Eu não estou "curada", caio, levanto, e são as mensagens de estímulo de vocês que me dão forças para continuar.

Que tudo que aconteceu comigo sirva de mais um exemplo que há esperança. Que as vezes fazemos coisas e pegamos caminhos os quais nem imaginamos, mas que o retorno acontece, a vida surpreende. E que, apesar de muitas vezes não acreditarmos, ela vale a pena ser vivida sim.


19 de dez. de 2014

Sobre o “ser” borderline.




Amamos tanto que nos perdemos. Perdemos a nós mesmas pela ausência de uma identidade, por essa desregulação emocional que embaça o juízo. Eu estou reaprendendo a ser quem sou, pouco a pouco. As músicas que gosto, a roupa que visto – um dia blazer, outro tênis no pé – de acordo com meu humor.

Acho que amamos o amor – vício de apaixonar, pelo marido, pela mãe, pai, melhores amigos - vício de sentir muito. O pouco, o blasé, não satisfaz. Só por um período. Enjoa, meu cabelo enjoa, o corpo enjoa, o sentimento enjoa e a sensibilidade aflora.

Todavia tem jeito de tirar este óculos que nos faz enxergar com “olhos de caleidoscópio” (citando John Lennon) – a vida que vale a pena ser vivida é real. Não a normal, aquele “normal” que te fizeram crer ser o certo. O seu “normal”. Sensíveis, coloridos, apaixonantes, seremos sempre, com ou sem diagnóstico. Aliás, somos bem mais do que um. Ao ultrapassá-lo, aprendemos que ser borderline não nos define – ao nos dar conta de quem realmente somos. Ser borderline me ensinou a ser eu.

Por isso, lute. Vá a terapia, cuide de si, acredite mesmo sem acreditar, há luz, Ame-se. Descubra-se. Tente todos os dias, caia, levante, mas não desista. Não se humilhe, se baste. Nem que seja por hoje. Acredite que você é mais que um “ser” borderline e seja, simplesmente.





1 de dez. de 2014

Princesa Borderline - depoimento (e mais uma colaboradora!)




(texto de Isabella, nossa nova colaboradora)

Nada melhor do que eu mesma para relatar essas idas e vindas que ocorrem no cotidiano complexo dessa jovem digamos que "perturbada" pelas próprias lembranças e frustrações.

Digamos que ela segue uma mistura de fada encantada com a bruxa da branca de neve - não que isso seja bom, claro que não é nada bom - mas para ela era uma virtude que poucos infelizes conseguem ter. Mas ela conseguia driblar tudo e todos com seu jeito e suas manias, mas, a única coisa que ela realmente queria era atenção - e ela tinha - era algo diferente, como de costume não era algo comum, ou no fundo era, mas não para ela.

Quando era uma doce criança já enfrentava problemas com as pessoas, ai que vem a pergunta - por causa dela ou dos outros? - Ainda não sei, ninguém sabe, ou pelo menos não quer realmente saber. Ela não conseguia se achar maligna, afinal, como alguém consegue ser maligna com 6 anos? Nos mais aguardados filmes de terror isso sempre foi possível, mas não é uma coisa ocasionalmente pensada, apesar de que os pais sempre aguardam que seus filhos sejam perfeitos... Acontece, que nem toda criança quando lida com os primeiros confrontos faz tudo da maneira mais indicada.

Apesar das idas a psicóloga ou os encontros fervorosos de família, Isa ainda não via nada de tão diferente no seu jeito de ser. Criada pelos pais até os 13 anos, e depois foi morar com sua mãe em um condomínio no centro da cidade, sem conviver com o pai e sua família por quatro anos, o que podemos dizer? Muita coisa muda em quatro anos não é?

A convivência com sua mãe era muito boa, ela era sua melhor amiga, e a jovem sentia muito orgulho da mãe, tanto pela pessoa que era e sem dúvidas a determinação da mãe. Depois da morte de sua avó, tempo difícil, as duas resolveram ajudar uma a outra. Depois desse tempo o pai de Isa ao rever a filha, encontrou uma moça tatuada, que fumava e bebia, e ainda por cima ficava com meninas. Esse primeiro contato não foi a melhor coisa do mundo, mas depois que ele levou a filha em uma clínica psiquiátrica a 1500 km de distância, deve ter levado o um baita susto e resolveu fazer o papel de pai uma vez por semana.

A adolescência não é o melhor período da vida, mas é com ele em que descobrimos quem somos, e foi aí em que começa o tormento e o sangue. A jovem começou a ir em um psiquiatra a pedido da mãe, ao ver que sua filha precisava de ajuda, um tratamento foi iniciado e ela ia ao médico de 15 em 15 dias...
Um tratamento longo, até chegarem a conclusão depois de dois anos que ela tinha um transtorno de personalidade, chamado Borderline. Não era nada fácil para ela entender o que era isso, mas com várias pesquisas na internet e com a ajuda de sua mãe as coisas começaram a se encaixar, com duas tentativas de suicídio nada agradáveis, dias sofridos, automutilação, noites sem dormir, crises, ela resolveu ir se internar. Como ela mesmo dizia "todos deveriam passar por essa experiência", torno das palavras dela as minhas. 

Não é a vida que uma garota de dezessete anos queria, mas ela tentava tirar as coisas boas do momento em que estava, depois de ganhar alta ela começou a encarar os fatos de uma maneira mas coerente, por mais que acabava se frustrando uma vez ou outra. Depois disso, ela recebeu um tiro pelas costas da pessoa que ela mais amava, ela parou, e pensou o que ela deveria fazer naquele momento. Ela ergueu a sua cabeça e foi em diante. 
E tudo ficou feliz para sempre? Não, ela passava por provas todos os dias de sua vida, por um tempo resolveu ficar afastada de tudo, ficar na sua cama, ver seu filme, curtir sua gata Amy e aproveitar o que ela tinha para aproveitar nos dias atuais. 

Ela não era nenhuma princesa de contos de fada, era uma guerreira, graças ao apoio e carinho de sua mãe que acreditou nela até quando a própria Isabella deixou de acreditar.
20 de nov. de 2014

Como a neurociência explica a automutilação (parte 4)



(essa é uma reportagem longa que saiu agora em outubro sobre a automutilação, que estou traduzindo aos poucos e publicando - pra ler do início, coisa que eu sugiro que façam, segue: parte 1 , parte 2, parte 3)


Todos estes resultados significavam que a definição de auto-lesão tinha de ser redefinida. Em 2006, um pequeno grupo de cientistas da primeira reunião da Sociedade Internacional para o Estudo da Automutilação (ISSS - International Society for the Study of Self-Injury) fez exatamente isso. "Nós discutimos a definição durante o jantar e drinks em uma noite," Heath disse. "Significou que o pobre garçom teve de ouvir a conversa de jantar mais perturbadora de sua vida. Nós nos perguntávamos coisas como: "Então, se a remoção de seu próprio globo ocular é auto-mutilação, o que dizer de beber água sanitária?" '

A definição que eles desenvolveram ainda vale: a auto-lesão não suicida é a destruição auto-infligida e deliberada de tecido corporal sem intenção suicida, nem para fins socialmente aceitos, tais como piercings ou tatuagens. Os estudos epidemiológicos descobriram que, enquanto cerca de um terço de todos os adolescentes tinham deliberadamente se machucado pelo menos uma vez, menos de um em cada 10 adolescentes e adultos jovens repetidamente o fizeram. Além disso, embora muitas cultura pop falam da auto-lesão como uma coisa "de mulher", os estudos descobriram que os homens e as mulheres se machucavam em proporções mais ou menos iguais.

O grupo é heterogêneo. Muitos lutam com a depressão, ansiedade e distúrbios alimentares. Alguns satisfazem os critérios para transtorno de personalidade borderline. No entanto, outros têm distúrbios do espectro do autismo ou, como eu, transtornos de ansiedade associados; esse último grupo passa mais tempo pensando sobre automutilação antes de se envolver nela, e tem o maior risco de suicídio.

Na verdade, o corte e outras formas de auto-mutilação corporal estão entre os preditores mais fortes de futuro comportamento suicida, diz Stephen Lewis, psicólogo da Universidade de Guelph, em Ontário. Lewis e outros acreditam que a auto-mutilação sinaliza a incapacidade de lidar com as emoções à mão. A fuga temporária que a auto-lesão fornece poderia ser um precursor para a fuga mais permanente de suicídio.

Independentemente das razões em que o suicídio e auto-mutilação estão tão fortemente ligados, os pesquisadores ainda se esforçaram para entender por que as pessoas repetidamente (e deliberadamente) se machucam. Matthew Nock, agora um professor de psicologia em Harvard, tentou descobrir isso enquanto ele era um estudante de doutorado na Universidade de Yale sob a tutela do psicólogo Mitch Prinstein (que agora está na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill). Ao mergulhar na literatura sobre outros comportamentos repetitivos e pedindo às pessoas que se auto feriam  para manter diários, Nock e Prinstein desenvolveram o Modelo de Fator Quatro em 2004.

O modelo funciona através de reforço positivo e negativo, Prinstein me disse. O reforço positivo é quando fazendo algo nos dá uma recompensa; reforço negativo é a remoção de algo que nos faz sentir mal. A auto-lesão oferece reforço positivo e negativo, tanto por razões intrapessoais (alterando emoções) e por razões interpessoais (alterando nossas relações com os outros). Alguém que está tão anestesiada pela depressão que ela não sente nada pode cortar se para sentir algo, qualquer coisa, mesmo que seja a dor - um exemplo de reforço positivo, por razões intrapessoais. Outros podem estar ansiosos ou enfurecidos e se machucam para diminuir esses sentimentos, o que é um caso de reforço negativo intrapessoal. Outros ainda podem ferir-se para demonstrar o quão angustiados estão e para forçar uma reação de entes queridos (reforço positivo interpessoal) ou para que deixem de fazer alguma coisa (reforço negativo interpessoal). As razões de uma pessoa para a auto-lesão podem ser diferentes a cada vez, e podem abranger uma variedade de motivações, mas algumas são mais comuns do que outras.

"De longe, a razão mais comum que as pessoas deram para se mutilarem foi que era para parar de se sentir tão mal" Prinstein disse.

Eu poderia me identificar com isso. Emoções intensas e negativas as quais eu não sabia como lidar sempre precediam um episódio de auto lesão. Às vezes, o objetivo era se sentir melhor. Outras vezes, o desejo de diminuir o volume das emoções como raiva ou ansiedade era tingido pela vontade de me punir. Eu merecia sofrer, eu merecia sentir dor e ter cicatrizes para que o mundo soubesse que eu era uma pessoa horrível. Nem todos, no entanto, relataram sentir dor ao se ferir; uma porção substancial de pessoas que se auto ferem dizem que suas ações não resultam em dor imediata.

Tudo isso levou Joseph Franklin, que recebeu seu PhD, e atualmente é um pós-doutor no laboratório de Nock, a perguntar se as diferenças na percepção da dor poderiam contribuir para a automutilação. Ele trouxe 25 pessoas que regularmente se auto lesavam para o laboratório e pediu-lhes para colocar as mãos na água gelada, uma forma comum de medir a dor.

Comparados com 47 controles, os indivíduos que se auto-mutilavam foram capazes de deixar suas mãos na água gelada por mais tempo, indicando uma percepção da dor diminuída. Franklin também descobriu que aqueles com maiores dificuldades na regulação e resposta às emoções também foram capazes de suportar a dor por mais tempo. Era como se a sua dor emocional os distraísse da dor física.

Um estudo relacionado por Nock e seus colegas de Harvard mostrou que a auto-crítica também aumentava a quantidade de tempo em que os indivíduos que se auto feriam poderiam suportar a dor. Franklin acredita que as pessoas que são excessivamente autocríticas pode forçar-se, para suportar a dor por mais tempo. Esses dois fatores - regulação da emoção e auto-crítica - parecem ser independentes, e aparecendo juntos provavelmente se aumentaria o risco de auto-lesão ainda mais.

Este achado bateu comigo. Alguns dos meus piores períodos de corte ocorreram após lutas pessoais na pós-graduação, sendo a dificuldade em completar a minha tese, uma nota ruim em um exame, ou apenas sensação geral de não ser bom o suficiente. Eu revolvia no ódio por mim mesmo. Especialistas provavelmente diriam que o meu sentimento de que eu merecia a dor, ou que de alguma forma a adquiria através do meu comportamento, tornava-a mais fácil de tolerar.

continua...

(tradução livre/edição da reportagem: "Why self-harm?")
29 de out. de 2014

Como a Neurociência explica a automutilação. (parte 3)




(essa é uma reportagem longa que saiu agora em outubro sobre a automutilação, que estou traduzindo aos poucos e publicando - pra ler do início, coisa que eu sugiro que façam, segue: parte 1 , parte 2)

Lader primeiro começou a estudar e tratar a auto-lesão no início de 1980, depois que seu colega Karen Conterio começou a ver sinais de mais e mais mulheres a auto-flagelando em seu trabalho ambulatorial para abuso de substâncias. Nenhuma destas mulheres mostraram sinais de distúrbios psicóticos ou de personalidade, nem estavam se cortando ou queimando-se com intenção de suicídio. Conterio pensou que estava vendo apenas a ponta do iceberg, e por isso ela colocou um anúncio no jornal Chicago Tribune em 1984, pedindo para ouvir aqueles que se machucavam regularmente sem a intenção de cometer suicídio. Foi uma enxurrada de cartas, e de repente as pessoas começaram a falar sobre auto-lesão. O seu surgimento como um fenômeno da cultura pop levou a uma aparição no programa de TV Phil Donahue em 1985 com várias mulheres que se auto machucavam. 

Em 1986, Lader e Conterio fundaram o que se tornaria a SAFE Alternatives(Self-Abuse Finally Ends - o auto-abuso finalmente termina ) , a primeira instalação residencial  do mundo especificamente para tratar as mulheres que se automutilavam, localizada nos arredores de St Louis. Psicólogos acreditavam que Lader e Conterio estavam vendo um subconjunto raro da população, e que as psiquês dessas mulheres estavam tão irremediavelmente marcadas quanto seus corpos. Lader não estava convencido. "Eram pessoas incríveis, brilhantes, inteligentes jovens que tinham tanta promessa, só que foram consumidas por pensamentos de se machucarem", Lader me disse. 

Embora outros duvidassem, Lader também acreditava que automutilação era muito mais comum do que se pensava. A prova finalmente chegou em 2002 a partir de Nancy Heath, uma psicóloga da Universidade McGill, no Canadá, e sua aluna de doutorado, Shana Ross. Em uma escola local, Ross estava conversando regularmente com os adolescentes, que expressavam preocupação com a sua própria prática de automutilação ou de um amigo. Quando ela quis tornar este o foco de sua dissertação, Heath tentou convencê-la do contrário. 

"Eu disse a ela que ela nunca iria encontrar número suficiente de pessoas que se automutilavam para obter os dados para uma tese," Heath disse. "Eu finalmente concordei em deixá-la tentar." 

Os resultados preliminares de Ross indicaram que mais de um em cada cinco jovens praticaram a auto-lesão pelo menos uma vez. Isto chocou tanto Heath e o resto da comissão de dissertação que eles achavam que os alunos do ensino médio tinha entendido mal a pergunta. Então, Ross voltou para a prancheta, fazendo entrevistas com mais profundidade com os que haviam relatado a auto-lesão e descartou todos os resultados com uma uma leve incoerência. Os percentuais caíram, mas Ross ainda ficou com um atordoante e elevado número de adolescentes que relataram a auto-mutilação: 13,9 por cento. 

Não muito tempo depois que o estudo de Ross e Heath apareceu no Journal of Youth and Adolescence (Jornal da Juventude e Adolescência), Janis Whitlock, uma psicóloga da Universidade de Cornell, publicou um estudo de auto-agressão entre 5.000 estudantes de várias universidades da Ivy League. Seus resultados mostraram  números igualmente elevados de jovens que tinham se machucado: 20 por cento das mulheres e 14 por cento dos homens disseram que tinham  se auto-ferido pelo menos uma vez. 

"Eu estava chocada. Todo mundo estava achando taxas muito altas ", me disse Whitlock. "A questão parecia vir do nada." 

O que foi inovador nesses dois estudos não foram apenas os altos índices para a auto-lesão, mas que estes eram populações da comunidade, e não de pessoas internadas por problemas psiquiátricos. Eram as pessoas que se sentavam do seu lado na sala de aula e ficavam na fila do supermercado.

continua...

(tradução livre/edição da reportagem: "Why self-harm?")


26 de out. de 2014

Como a Neurociência explica a automutilação. (parte 2)




(perdeu a primeira parte desta reportagem? Vá aqui.)

O sangue é uma força poderosa. Falamos de laços de sangue e terra que foi consagrada pelo sangue. Nós derramamos sangue para curar doenças e para apaziguar os deuses. Disputas de longa data entre grupos de pessoas tornam-se feudos de sangue. Sangue- e as lesões sofridas para obtê-lo - tem sido por muito tempo um símbolo de guerra e religião. Cristãos bebem vinho durante a Santa Ceia, que representa o sangue de Cristo, que foi derramado para redimir nossos pecados. Sacerdotes maias abriram suas próprias veias para um sacrifício de sangue para suas divindades. 

A auto-mutilação é tão antiga quanto. O historiador Heródoto escreve sobre o primeiro rei Cleómenes de Esparta, que enlouqueceu e foi colocado no tronco, no quinto século a.C: 
"Enquanto ele estava lá, percebeu que todos os seus guardas o deixaram, exceto um. Ele pediu a este homem, que era um servo, para emprestar-lhe a faca. No início, o companheiro recusou, mas Cleómenes, por ameaças de que ele faria com ele quando ele recuperasse a liberdade, o assustou tanto que ele finalmente consentiu. Assim que a faca estava em suas mãos, Cleomenes começou a mutilar-se a partir de suas canelas. Ele cortou sua carne em tiras, trabalhando para cima em direção a suas coxas, quadris e lados até que alcançou sua barriga, que ele cortou em picadinhos. 

Os primeiros relatos clínicos de que hoje seria reconhecido como auto-lesão apareceram no final de 1800, em Anomalias e Curiosidades da Medicina (1896) pelos médicos americanos George Gould e Walter Pyle. Eles escrevem sobre "meninas de agulha", as jovens mulheres que repetidamente feriam-se através da inserção de agulhas de costura e pinos em sua pele, desta forma cortando-se. Eles resumem o caso de uma mulher de 30 anos de idade, de Nova York assim: 
Em 25 de setembro ela cortou o pulso esquerdo e mão direita; em três semanas ela se mostrou novamente desanimada porque não quiseram lhe dar ópio, e novamente cortou os braços abaixo dos cotovelos, cortando a pele e fáscia, machucando completamente os músculos em todas as direções. Seis semanas depois, ela repetiu a façanha em cima das cicatrizes recentemente curadas [marcas de corte] ... Cinco semanas após a convalescença, durante os quais sua conduta foi exemplar, ela voltou a cortar os braços no mesmo lugar. Em abril do ano seguinte, por motivos banais, ela novamente repetiu a mutilação, mas desta vez deixando pedaços de vidro nas feridas. Seis meses depois, ela infligiu-se uma ferida de sete centímetros de comprimento, na qual ela inseriu 30 peças de vidro, sete lascas longas e cinco pregos de sapato. Em junho de 1877, ela cortou-se pela última vez. Os artigos a seguir foram retiradas de seus braços e preservados: 94 pedaços de vidro, 34 lascas, duas tachas, cinco pregos de sapato, um pin e uma agulha, além de outras coisas que se perderam - fazendo no total cerca de 150 artigos. 

Gould e Pyle classificaram esta automutilação ritualística como uma forma de histeria, e as mulheres que se faziam como enganadoras e em busca de atenção. De fato, até o início de 2000, a maior parte da literatura clínica classificava a auto-lesão com transtornos psiquiátricos mais graves, como psicose e transtorno de personalidade borderline, um estado de caos interno e instabilidade, especialmente quando relacionamentos estavam envolvidos. 

"Algumas mulheres que se machucavam eram hospitalizados cada vez que se cortavam, o que poderia ser centenas de vezes ao longo de sua vida. Elas essencialmente viviam nos hospitais ", disse Wendy Lader, o diretor clínico de um programa de auto-abuso EUA e um dos primeiros psicólogos a tratar a automutilação. "As pessoas achavam que eu era louco, quando eu disse que muitas dessas pessoas poderiam ser tratadas ambulatorialmente, porque eles não eram necessariamente suicidas."

continua...

(tradução livre e edição desta reportagem: "Why Self-harm?")

17 de out. de 2014

Como a Neurociência explica a automutilação (parte 1)




Isso é o que eu me lembro sobre a primeira vez que eu me cortei: eu estava com muita raiva. Como escritora, queria poder vir com algo mais literário, tais como: "Os cortes forneceram uma rota através da minha pele para que as emoções escapassem." Ou talvez: "Eu o fiz para traduzir a dor emocional em dor física." ou ainda, talvez: "Eu gravei meu sofrimento em minha pele, tumulto em larga escala para todo o mundo ver".

Estas são, de certa forma, verdade. Mas isso não é o que eu estava pensando na primeira vez que peguei uma tesoura e cortei as minhas coxas. Principalmente, eu estava muito p. da vida. 

Eu tinha discutido com minha mãe sobre algo tão banal que já há muito desapareceu da memória. E, em um acesso de fúria adolescente, eu voei pro meu quarto e bati a porta. Cega de raiva, eu peguei uma tesoura e a virei na minha mão. A próxima coisa que eu tenho consciência é que eu estava olhando para pequenas pérolas de sangue na minha perna. A névoa de raiva tinha desaparecido. 

Eu rapidamente cuidei do ferimento, um tanto envergonhada. A tesoura eram velha e as lâminas estavam meio cegas, então eu tinha feito mínimo dano físico . Naquela época ou agora eu não poderia explicar o que tinha acontecido comigo. Eu jurei para nunca mais fazer isso de novo. Em duas semanas, eu tinha quebrado essa jura. 

Ao longo dos anos, eu tentei explicar a automutilação aos meus terapeutas, meus pais, meus amigos e mais recentemente, ao meu marido. Todo mundo tem a mesma pergunta melancólica: 'por que?' Principalmente, eu apenas dou de ombros e murmuro: 'Não sei.' Não digo a eles que eu estou fazendo a mesma pergunta de mim mesma. Eu não gosto do processo, nem eu gosto das cicatrizes. São vergonhosas e constrangedoras. Eu queria desesperadamente parar, mas uma coisa sempre aparecia na minha cabeça: depois de cortar, eu me sentia melhor. 

Apesar de eu ter escrito extensivamente sobre a minha história de saúde mental - eu tenho uma folha psiquiátrica que tem o tamanho do meu braço - raramente menciono automutilação. Depressão, ansiedade, anorexia, até mesmo tentativas de suicídio - todos estes parecem ser infinitamente mais explicáveis do que a atração recorrente da lâmina. Eu não estou sozinha em minha vergonha ou minhas lutas. Um estudo de 2006 na revista Pediatrics estima que cerca de um em cada cinco estudantes universitários deliberadamente se feriram pelo menos uma vez. Cerca de seis por cento dos jovens adultos vão se machucar repetidamente. Embora casos de morte causada diretamente pela automutilação são relativamente raros, mesmo a auto-lesão ocasional aumenta drasticamente o risco de tentativas de suicídio e suicídios consumados. 

O porquê de tantos de nós continuarmos a apertar o botão de auto-destruição ainda não está claro, mas uma nova era de estudos em psicologia e neurociência oferecem uma imagem mais rica do motivo pelo qual, para alguns de nós, sentir-se mal mal significa sentir-se bem.

(tradução livre/edição do artigo "Why Self-Harm?" - em 13/10/2014)


***********************

* Essa é uma reportagem super atual (saiu esta semana) e interessante sobre automutilação. Só que ele é beem longo, então vou traduzir e publicar em partes, também pra fazer todo mundo ler, porque sei que tem alguns preguiçosos que não lêem textos grandes. Quem souber ler em inglês, como em todos os meus posts, o link está acima.



13 de out. de 2014

Sobre a vida que é digna de ser vivida.


É engraçado. Hoje recebi um e-mail me perguntando qual era o primeiro sinal indicando que estávamos melhorando. Logicamente respondi que não há um padrão, cada ser humano é único. Porém fiquei pensando em mim e no que melhorei. Não sei. Não penso em morrer com frequência, a vontade de se cortar é bem menos frequente, o choro vem mais espaçado. Trabalho. Lido com pessoas, organizo e resolvo a vida de muita gente, com suas expectativas. 

Fico perto da vida que falo tantas vezes, aquela que "vale a pena ser vivida", só que na verdade ainda não sei o que significa isso de verdade. Sofro ainda, a lembrança de tudo que passei vem vívida muitas vezes. Uma pessoa comentou a cena da Ray, a que ela sofre pelo sumiço do psicopata Edu em Dupla Identidade, dizendo que a atriz tinha sido bem dramática. Eu só sorri e respondi que ela havia sido simplesmente fiel. A dor corrói, entra na alma, que se rasga em pedaços. Eu sei o que é isso, apesar das pessoas as vezes se esquecerem disso. Como eu levo uma vida dando conselhos, advogando pela causa do transtorno, levantando a bandeira e sendo elogiada pela minha coragem, a parte que eu também sou border passa batido. Eu cheguei longe, eu sei. Meu blog me levou a colocar a cara a tapa na TV, mas minha escolha me fez perder este canal de desabafo. Muita gente que conheço entra aqui, então não posso mais me dar ao luxo de usar este veículo como diário pessoal. 

Não que eu me arrependa, não é isso. Eu fiz uma escolha, quando decidi ir a público e defender o que eu acredito. Eu levo a vida pensando em como vou agir, reagir, no que falar para você que está me lendo agora, que se corta todo dia, que está sem esperanças, que acha que não existe luz. Existe sim, mas não enxergá-la de vez em quando faz parte do processo de recuperação, no meu ponto de vista. Eu não enxergo as vezes. Deixo a vida me levar um dia após o outro, esperando que talvez eu acorde uma manhã e tudo deixe de ser tão intenso, como que por encanto. Há dias em que tudo que eu quero é ficar em casa, dormindo, comendo, ouvindo música. Todavia eu fiz a escolha mais difícil: melhorar. E isso demanda um esforço grande, um conhecimento pessoal, um controle que cansa, cansa muito... Tem dias que eu queria voltar a ser a Eilan. Era mais sofrido, mas menos cansativo. Eu reagia simplesmente, acabava com nada e culpava a vida por isso.

Esse texto não faz nenhum sentido, eu acho. Estava com saudade de escrever aqui, com minhas palavras, dividir a minha dor não para que eu a cultive, mas para mostrar que, apesar dela, eu vou acordar amanhã, cuidar dos gatos, vestir a roupa, colocar uma maquiagem e vou trabalhar. Que a vida que é digna de ser vivida talvez seja essa mesmo, onde apesar de querer sumir num dia, a gente levanta e vai viver no outro.

Pra terminar a nostalgia, uma música borderline pra coroar este post meio melancólico. Estava ouvindo no carro e achei bem adequada...

Simple Plan - Welcome to my Life


4 de out. de 2014

Homens também podem ter o Transtorno de Personalidade Borderline.




O Transtorno de Personalidade Borderline é geralmente considerado como um transtorno "de mulher". Mas os homens podem ser borders, também. 

Therapy Soup dá as boas vindas a Dr. Robert Fischer. Dr. Fischer é o Diretor Executivo do Optimum Performance Institute, em Woodland Hills, CA. O Roanne Program  é especializado em tratar jovens adultos com o Transtorno de Personalidade Borderline ou com alguns traços dele.

Quando as pessoas pensam em uma pessoa com um diagnóstico de transtorno de personalidade borderline, eles pensam de ser doença de uma mulher. No entanto, os homens também podem ter o TPB. Quantos homens border e qual a percentagem de todos os doentes com o TPB são homens? 

Anos atrás, os médicos relutaram em fazer o diagnóstico de DBP, em parte porque os tratamentos disponíveis não estavam produzindo resultados favoráveis e, portanto, não havia muita esperança para a recuperação total. 

Com o advento da Terapia Dialética  Comportamental e outras modalidades terapêuticas, é claro que podemos fazer muito para ajudar as pessoas com o Borderline para melhorar a qualidade de suas vidas. Fizemos grandes progressos no de-estigmatizar o diagnóstico de TPB nas mulheres. 

Finalmente, estamos a dar o próximo passo e fazer o mesmo para os homens. 

Pesquisas anteriores mostraram que os homens eram cerca de 25% dos casos de TPB. Hoje sabemos que é um notável 50/50. 

Como o TPB em homens difere do TPB em mulheres? 

A literatura científica indica que as mulheres com o TPB são mais propensas a distúrbios alimentares, de humor, ansiedade e TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), enquanto os homens demonstram paranóia, tendências passivas / agressivas, o narcisismo, e transtornos de personalidade anti-social. Homens com TPB parecem ser mais propensos a abusar dos cônjuges em vez de direcionar a raiva a si mesmos. Eles demonstram personalidades caracterizadas por temperamentos explosivos, abuso de substâncias e uma necessidade de buscar experiências emocionantes. 

Embora isso possa ser apoiado pelos dados, eu acredito que dá uma impressão muito pejorativa dos homens. Na verdade, não há diferença entre mulheres e homens em termos de seus níveis de estresse psicológico. Ambos são seres humanos que sofrem tremenda ansiedade. Tanto os homens como as mulheres estão sujeitas a sua genética e exposição social  possivelmente abusiva , como todos têm a necessidade de serem validados. 

Certamente, no Programa Roanne, vemos homens com TPB que não se apresentam transtorno de personalidade anti-social. Eles não são paranóicos. Eles são muito diferentes do que esta rotulagem estereotipada. 

Como olhamos para alguém em dificuldade determina, em parte, como nós os tratamos. 

Há sempre alguma verdade as generalizações sobre comportamento, mas cada pessoa é única. É importante cautela ao colocar uma pessoa em caixas calculadas estatisticamente. Ninguém merece ser estereotipado. 

São as causas ou antecedentes que diferem para o TPB em homens x mulheres? 

As causas específicas ou antecedentes podem ser diferentes. Mas homens e mulheres com o TPB compartilham uma dificuldade subjacente na gestão de stress e ansiedade. Podem haver causas neurológicas ou genéticas e podem haver diferenças nas formas de lidar com o sentimento de invalidação. Isso leva ao border a se distrair e encontrar dificuldades para completar seus objetivos. Não ser capaz disso faz causa problemas com a auto-estima. Este ciclo de sentimentos e comportamentos pode fazer difícil de estabelecer relações consistentes e carinho com os outros. 

Tanto os homens como as mulheres sofrem igualmente. 

Às vezes vemos homens com algumas características de quem sofre de TPB, mas eles têm outros marcadores do transtorno de personalidade também. Por exemplo, o transtorno anti-social de personalidade e o TPB às vezes parecem se sobrepor. O Transtorno de Personalidade Narcisista, em alguns casos, também. Você pode comentar sobre isso? 

Certamente existem muitos homens com TPB que também têm personalidades anti-sociais e narcisistas. 

Para este grupo a ajuda deve ser entregue de uma forma abrangente, abordando os comportamentos de agressividade e anti-sociais, proporcionando contenção, bem como compaixão e compreensão. Pode ser extremamente difícil prestar cuidados significativos e adequados para os homens (ou mulheres) que têm comportamentos anti-sociais. 

No entanto, os jovens com os quais temos trabalhado geralmente não parecem anti-sociais. Isso me leva a crer que existem muitos homens que poderiam se beneficiar e que são merecedores de cuidado, mas podem estar relutantes em apresentar-se para a ajuda, porque eles sentem que não se encaixam no diagnóstico atual do TPB. 

Os jovens que vemos para o tratamento para o TPB claramente demonstram os processos de pensamento subjacentes, ou seja, estilos de pensamento em preto ou branco rígidos e perfeccionismo. Eles acham difícil se comprometer, o que torna sua capacidade de estabelecer relacionamentos íntimos mais difícil. Vendo o mundo dessa maneira muito em preto ou branco também faz com que seja difícil para eles conseguir dominar os altos e baixos que vêm com a realização de metas complexas porque os baixos são experimentados como catastróficos e avassaladores. 

É claro que essa maneira de ver o mundo é comum. Todos nós fazemos isso às vezes. Mas quando ela se torna a forma predominante de lidar com o estresse e a ansiedade, torna-se problemática, especialmente em pessoas que são propensas a ter oscilações emocionais intensas. 

A associação de narcisismo e comportamentos anti-sociais com DBP, creio eu, pode ser em parte um artefato do grupo de pessoas em quem os estudos foram baseados. Um sistema de diagnóstico que é baseado em observações comportamentais estatisticamente válidas mas que não trata da vida interior, produz um sistema que pode ter verificabilidade, mas, muitas vezes tem pouca semelhança com o indivíduo sentado em um consultório. 

Esse é um ponto muito importante, Dr. Fischer. Temos que entender que a imagem que temos pode não ser completa, ou mesmo verdadeira, e que cada pessoa em tratamento é um indivíduo. 

O quadro fica ainda mais confuso quando se observa como muitos outros diagnósticos, tais como depressão, ansiedade, bipolaridade e TDAe TDAH são também uma parte da realidade em homens e mulheres com diagnóstico de TPB. 

Nosso sistema de diagnóstico, creio eu, simplesmente apresenta diretrizes que podem ser úteis. 

(tradução livre do artigo: "Men can have Borderline Personality Disorder, too")


Robert F. Fischer, MD, é diretor executivo e co-fundador do Instituto Optimum Performance (OPI), uma terapêutica credenciada do JCAHO , programa residencial e educacional para o jovem adulto, em Woodland Hills, CA.  Programas Roanne da OPI é especializado no tratamento de jovens adultos com Transtorno da Personalidade Borderline ou traços. Dr. Fischer é professor clínico assistente de psiquiatria, David Geffen da UCLA School of Medicine, Departamento de Psiconeuroimunologia, Instituto de Pesquisa consciência atenta. Ele tem ajudado os jovens adultos encontrar um significado em suas vidas por quase 35 anos.



30 de set. de 2014

It Girl



"It girl" é um termo utilizado para se referir a mulheres, geralmente muito jovens, que, mesmo sem querer, criam tendências, despertam o interesse das pessoas em relação ao seu modo de vestir, de andar, pensar ou ser. As "it girls" têm via de regra o que muitos chamam de "carisma", algo que atrai a atenção para elas. Sua característica mais determinante é serem incomuns, destacarem-se das pessoas comuns e provocar interesse, a ponto de outras pessoas passarem a copiar seu jeito de vestir, falar e/ou agir. Normalmente as "it girls" comportam-se de maneira irreverente e despertam a curiosidade das pessoas sobre o seu modo de vida.
(Wikipedia)

Descobri que sou uma It Girl. Não, não é porque todos admiram meu jeito fashion, meu carisma inigualável e meu fascinante modo de pensar. É porque tenho um transtorno.

Virou moda ter um problema psicológico. É cult se dizer sofrida, espancada pela vida, cheia de cicatrizes na alma. Falando nelas, foi quando me deu o insight de escrever este texto. Numa conversa com uma amiga, ela me contou que numa fan page de borderline no facebook, a menina perguntou pra ela como era o melhor jeito de se cortar.
Oi?

Como assim alguém acha bonito se cortar? Como se fosse algo que podemos estar gritando aos quatro ventos, como uma qualidade a qual ninguém pode se igualar, um prêmio, uma dádiva. Acho que o mundo está mais doente do que eu.

Mas acho que tenho que colocar a bipolaridade no meu diagnóstico, pois mais cult que ser borderline é ser bipolar. Culpa da Britney Spears e seu guarda-chuva ameaçador. Ou da Amy Winehouse. Toda adolescente que se preza, com sua maquiagem carregada, roupa preta brilhando ao sol e olhar sofredor tem que ser bipolar. Tem que ter uma fase de odiar o mundo, porque tenho um transtorno horrível que me faz "feliz" um dia e "triste" em outro. Faz ter um status.

Faça-me o favor. Achar bonito sentir um vazio que a gente não sabe de onde vem, pegar uma lâmina e rasgar a pele, entrar em depressão por dias, meses, sem esperança de ver uma tênue luz ao fim do túnel (eu nem túnel to vendo mais), sentir seu mundo se abrindo aos seus pés porque um cara terminou com você não pode ser achado legal.
Mas é. Ser feliz é last season.

Então criamos um exércitos de mentes sãs procurando insanidade onde não tem. Que admiram a escuridão (talvez seja uma relação com os meigos vampiros da Stephenie Meyer) ao invés da luz. Que querem se espelhar em pessoas com verdadeira dor na alma ao seguir exemplos de superação. 

Já que é cool ser sofrido, pode me colocar aí num topo de algum ranking. Afinal, além de tudo tenho um blog. Melhor do que isso seria se eu postasse vídeos contando minha trajetória, aparecesse num programa de televisão e... Ops. Já fiz isso também.
Que esta loucura do mundo acabe logo, que surja uma nova moda, bolinhas de gude na orelha, sapatilha laranja ao contrário, viajantes do tempo que acabam na terra da magia, eu não sei. Qualquer coisa. 

Afinal de contas, se ser It Girl é isso...Obrigada mas, não obrigada.

(post de maio/2013)
25 de set. de 2014

Eilan.



Avalon. Berço da sabedoria da Britannia, envolta em suas névoas de mistério e beleza. É neste lugar mágico que nasce Eilan, sobrinha da poderosa Ganeda, a Senhora do Lago detentora dos segredos e responsável pela condução da Profecia: uma sacerdotisa gerará o herdeiro da terra. Criada pelo pai até os dez anos de idade sob o nome de Helena, Eilan volta a Avalon para ser instruída nos ensinamentos seculares, e, durante o processo de descoberta de sua verdadeira identidade, recebe a dádiva, por meio de uma visão: será a mãe do Prometido. A tia, que tem outros planos, opõe-se a ela ferozmente. Invocando a Deusa, expulsa a sobrinha quando esta se apaixona por Constantius, oficial do exército romano.

Eles fogem e vivem um amor intenso, interrompido quando Constantius se torna imperador – a origem de Helena não seria bem aceita nos círculos do poder. Constantino, filho do casal, desenvolve aptidões para o exército e uma ambição desmedida. Mesmo distante dos antigos cultos e cerimônias nas quais foi instruída, Helena mantém sua ligação com a Deusa e seus talentos de sacerdotisa. Ela viverá de perto toda a conturbação política de seu tempo e o conflito de retomar ou não seu lugar junto à Ganeda e às demais sacerdotisas.

A sacerdotisa de Avalon é uma obra póstuma de Marion Zimmer Bradley, concluída por sua colaboradora, Diana L. Paxson. A partir dos mitos e lendas, as autoras desenvolveram uma saga que acrescenta os mistérios de Avalon à bela figura de Helena. E contam uma parte da história da formação de valores cristãos em substituição aos cultos pagãos na Europa do século III.

À mitológica Helena, figura reverenciada na Alemanha, em Israel e Roma e aclamada como santa nas igrejas que levam o seu nome, são atribuídas a descoberta de relíquias, a responsabilidade de levar as cabeças dos três Reis Magos para Colônia, o Manto que Jesus usava para Trier e a Verdadeira Cruz para Roma. Acredita-se que era uma princesa bretã que se casou com um imperador, que tenha vivido em York e em Londres, e estabelecido estradas no País de Gales.

Helena/Eilan é a testemunha com visão privilegiada do tempo de formação dos valores ocidentais irreversíveis. Valores que não admitem mistérios de vários deuses ou as brumas que acolhem as profecias advindas da luz.

A parte romana que o livro narra é real. É a história de Santa Helena. A que encontrou o Santo Sepulcro. É a história do Imperador Constantino, um dos alicerces da Igreja Católica, hoje.

(Fontes: aqui aqui)

* Esta é a estória de Eilan, da onde vem meu pseudônimo.

Ia postar sobre outra coisa hoje, mas eu mudei de idéia ao ver um post no blog da H. onde, se eu entendi bem, ela reclama porque alguém deve ter falado algo porque ela postou uma música Gospel anteriormente. Fiquei deveras irritada. Não gosto de comentar sobre minha religião aqui, mas hoje vou falar. Sou pagã. Não, não sou atéia, que não acredita em nada, acredito num Deus e em uma Deusa e reverencio a natureza.

Mas o mais importante: sou adepta à diversidade religiosa. Acho que todos temos que nos respeitar, fazer o bem. Não importa se a pessoa é evangélica, católica, protestante, espírita, umbandista... Cada um, assim como muitas outras coisas na vida, tem direito a fazer suas escolhas. Seria muito sem graça se tivéssemos somente um caminho a seguir.

Quero deixar claro que adoro quando me falam nos comentários sobre Deus e Jesus. Acredito que ele foi um ser iluminado e com certeza as pessoas que me desejam as coisas que ele pregou estão me mandando amor.

Agora, por favor. Respeitemos as escolhas. Chega de Felicianos da vida que se acham superiores porque tem uma crença qualquer. É por isso que temos tantas guerras no mundo. Pois a paz, que é a coisa em comum na maioria dos dogmas de todas estas religiões do mundo, não é bem compreendida por nós, meros mortais.

"Todos os Deuses são um Deus, e todas as Deusas uma Deusa. E a cada homem sua verdade, e Deus com ela."

As Brumas de Avalon
23 de set. de 2014

Rock and Roll.


Comecei a escrever este texto sobre a relação do Rock e do TPB pra mim mas... Fez mais sentido que ele fosse em inglês. Para os que falam o idioma, sugiro que leiam só a versão original, pois a tradução ficou boa porém não tem o mesmo espírito.

Are you a Rock'n'roll Girl? I truly believe I am one of these. Spirit wearing fancy and scratched All Stars, heavy makeup on. And that bad attitude, not caring, not giving a shit.

I have been starting to believe rock'n'roll has everything to do with Borderline Personality Disorder. Wild, madly crazy people. The sounds that hipnotize us are not quiet strings of an opera aria, but heavy hard core guitar solos on fire. Screaming with the last spark of voice left inside our lungs. Spreading vodka on the air. Eyes numbed by the smoke around, where are we?

Best poetry I've ever heard, sorry for the ones who are fond of the classics, came out of the (wonderful) throats of Eddie Vedder. Laney Staley, Chris Cornell, John Lennon, Janis Joplin. And my prince, Sir Paul McCartney. They take you away, but not to a very warm and tidy place, but to a room full of mess: inside your own mind.

And isn't it what we are, fellow borders? A room of mess, a pool of deep feelings, all entangled in a way that we can hardly ever figure out? Life of screams for freedom, can't we even free ourselves from our own thoughts? Just as drums beat, we wander around the ambience, taking everywhere, filling everywhere with our simpathy, empathy, craziness, sadness and shall we give people a break? No. The beats never stop. They stump, and stumble, and bump, and banish ordinary around. Even from dreams.

Can we be, even for a moment, mere ordinary people? I wish. Or not. Drugs taken, theraphy attended, but inside ourselves we are and will always be rock'n'roll people. We are the sounds that take everybody over. No matter how we do it and honestly we don't give a fuck, we live. Like a rock'n'roll oncert, with thousands of people singing along a chorus sometimes they don't understand, as if they were connected in an enchanted net, they keep going.

And that's who we are, my friends. Crazy rock'n'roll chords that only rock'n'roll people get. And the good news are: even with the therapy, meds, mind training, control... The verses will keep on playing. On our mind.

TRADUÇÃO:

Você é uma garota Rock'n'Roll? Eu realmente acredito que sou uma dessas. Um espírito calçando All Stars chiques e arranhados, maquiagem pesada na cara. E toda aquela atitude má, não dando a mínima.

Comecei a acreditar que o rock'n'roll tem tudo a ver com o transtorno de personalidade borderline. Pessoas selvagens, enlouquecidamente insanas. Os sons que nos hipnotizam não são as notas quietas de uma aria em uma ópera, mas pesados e hard core solos de guitarra pegando fogo. Gritando com a última centelha de voz ainda restante em nossos pulmões. Jogando vodka pelos ares. Onde estamos?

Desculpem-me aqueles que são fãs dos clássicos, mas a melhor poesia que já escutei saiu das gargantas (maravilhosas) de Eddie Vedder. Laney Staley, Chris Cornell, John Lennon, Janis Joplin. E de meu príncipe, Sir Paul McCartney. Eles te levam pra longe, porém não para um lugar quentinho e arrumado, mas para para um quarto repleto de bagunça: dentro de sua mente

E não é o o que somos, colegas borders? Um quarto bagunçado, uma piscina de sentimentos, todos emaranhados de tal forma que nós raramente conseguimos compreender? Vida de gritos por liberdade, não podemos sequer libertar-nos de nossos próprios pensamentos? Tal como as batidas da bateria, vagamos pelo ambiente, pegando tudo, preenchendo tudo com nossa simpatia, empatia, loucura, tristeza e será que deveríamos dar um tempo a eles? Não. As batidas nunca cessam. Elas batem pesado, tropeçam, impactam e banem o normal a volta. até mesmo dos sonhos.

Podemos ser, mesmo que por um momento, meras pessoas normais? Queria que sim. Ou não. Remédios tomados, terapias seguidas, mas dentro de nós mesmos ainda somos e sempre seremos pessoas rock'n'roll. Somos os sons que levam a todos. Não importa como fazemos isso e honestamente estamos pouco se fodendo, só vivemos. Como um show de rock, com milhares de pessoas cantando juntas acordes que as vezes não compreendem, como se conectados em uma teia encantada, eles continuam.

Isso é o que somos, meus amigos. Acordes loucos de rock, que só pessoas rock'n'roll entendem. E a boa notícia é: mesmo com a terapia, remédios, treinamento mental, controle... Os versos continuarão a tocar. Em nossa mente.


Mad Season - Lifeless Dead

Curiosidade: A banda que canta é o Mad Season.

Mad Season foi uma banda grunge estado-unidense criada em 1994 como um projeto paralelo de integrantes de outras bandas com base em Seattle e do sub-gênero, o que a conferiu a alcunha de supergrupo grunge. Formada pelo guitarrista Mike McCready do Pearl Jam, o vocalista Layne Staley do Alice in Chains, o baterista Barrett Martin do Screaming Trees e o baixista John Baker Saunders, o grupo fazia um som diversificado a partir de uma mistura entre blues e hard rock.


(Wikipedia)

TRADUÇÃO:

Morto Sem Vida

Morto sem vida, aquele leito impuro
Até ou quando o desejo dela foi satisfeito
Como ele tinha desejado que eles se casassem
"Eu prometo pelo nosso amor" ela disse
Promessas nunca foram cumpridas
Sozinho em chão sujo ele dormiu

Yeah, morto sem vida

E apesar de que ele não tivesse acreditado
Ela havia ido embora e assim ele chorou
Então um demônio veio a ele
"Você deve saber que eu vou vencer"

Yeah, morto sem vida

Ele disse, ela disse
Ela o guiou a morte
Ele disse, nós sofremos
Ela disse, mas não tentou

Morto sem vida, morto sem vida

(essa devia ser música borderline também...)
21 de set. de 2014

Não me deixe! O transtorno de personalidade Borderline e o abandono. (2)


(POST DE MARÇO/ABRIL DE 2013)

Como eu disse no post anterior, eu tenho muito a falar sobre este tema de abandono. quando eu li que este era um dos sintomas do transtorno, muita coisa fez sentido pra mim, pois estar sozinha foi sempre meu maior medo.

Fiz coisas que na época eu não entendia, ou não pensava muito no assunto, achando que era minha reação, ou as vezes me culpando por minhas atitudes, por não ter a força necessária para lutar contra aquilo.
Eu tive mais problemas com isso durante meu primeiro relacionamento e este último. quando me mudei para Curitiba para ficar com meu ex-noivo, aguentei toda sorte de coisas para não deixá-lo. Ele, por exemplo, estava envolvido com outra menina que ele conheceu na internet e eu sabia. Toda noite, depois que eu me deitava no quarto dele, ele ia para o computador para falar com ela, e eu escutava tudo. Quando brigávamos, eu perdia totalmente o controle. Partia pra cima dele, esmurrava, batia e dizia que ia me jogar pela janela, enquanto ele me segurava. Eu digo que se ele não me segurasse eu me jogaria mesmo, na adrenalina da discussão. Depois comecei a fazer chantagem, após minha tentativa de suicídio, dizendo que se ele terminasse comigo eu me mataria. Isso segurou ele por um tempo, mas para mim era a morte, pois eu me sentia pior sabendo que ele estava comigo porque eu havia dito que ia me suicidar. Pouco tempo depois retirei a chantagem e continuamos juntos mesmo assim, mas terminaríamos pouco tempo depois, também porque ele havia arranjado outra pessoa. Lembro-me que ele estava trabalhando em Campinas e quando me disse ao telefone que iríamos terminar, peguei um ônibus no outro dia e fui bater no hotel dele. Tivemos uma discussão grande dentro do seu carro, e foi a primeira vez que ele devolveu os tapas que eu lhe dava (não, não o culpo, ele nem bateu forte e eu merecia depois de tantos que eu havia dado nele.). A coisa ficou tão evidente que um carro de polícia nos parou perguntando se havia algo errado. Acabou que não importou o quanto eu chantageasse, lutasse, me humilhasse... Ele terminou comigo.
Com meu ex a situação não era muito diferente, era até pior. Tenho que explicar que desde o início nosso relacionamento foi conturbado, estávamos ficando por 10 meses antes dele finalmente oficializar o namoro, e como mesmo assim vivíamos juntos todos os dias, isso bagunçava com minha cabeça e me deixava insegura. todos os dias eu pensava que ele podia encontrar uma garota melhor que eu e me largar. Mesmo quando oficializamos eu ainda tinha isso na cabeça. Ao contrário do meu ex-noivo, meu ex-namorado não tinha a menor paciência, tato e consideração. Durante a maioria das brigas ele me dizia coisas horríveis, que não me aguentava, que estava melhor solteiro, que eu era uma "crazy bitch" e eu, o que fazia? Me descontrolava, ao invés de ir embora. Empurrava ele, quebrava coisas, tinha crises de choro que muitas vezes terminavam em desmaios. Ele também tinha o péssimo hábito de querer ir embora durante qualquer discussão, ou se eu estava na casa dele, ele me expulsava de lá. Quando isso acontecia, para mim era a morte. Na minha cabeça, ele não voltaria mais, me ligaria no outro dia dizendo que tudo estava acabado. Então eu me ajoelhava, segurava a chave o meu apartamento, a mochila dele, tomava o celular de sua mão enquanto ele chamava o taxi, ia atrás quando o táxi chegava e me jogava dentro dizendo que iria com ele, isso entre escândalos em que os porteiros eram as testemunhas, ou qualquer outro que estivesse passando.

Como ele era muito grosso durante as brigas, não passava pela minha cabeça que ele voltaria. Para mim, alguém que falava as coisas que ele me falava não podia nutrir sentimentos por mim. Quando ele ia embora durante as brigas eu ligava milhões de vezes, mandava mensagens dizendo que ele não me amava, isso sem contar que eu ficava tão mal que no outro dia muitas vezes não iria trabalhar.
Todos me perguntavam do porquê de eu estar com ele, devido a todas as brigas e muitas vezes grosserias comigo na frente de outras pessoas. eu respondia: "não tenho forças de deixá-lo". Hoje eu entendo que eu sabia já o que se passava, sabia que eu não era forte, mas eu achava que eu era simplesmente fraca.

Hoje, olhando pra trás, penso em como tudo teria sido diferente se eu tivesse entrado na terapia mais cedo, ou se tivesse começado a me tratar mais cedo. Pois o estopim de minha crise foi exatamente quando terminamos, em nossa derradeira discussão, os dois bêbados, eu saí da casa dele, entrei no mar de roupa e tudo desesperada, depois voltei e ele me expulsou aos gritos na frente de toda sua família. O motivo da discussão? Facebook. Uma coisa banal que explodiu em mágoa e raiva.
Quero deixar claro que não era de todo ruim, ele tinha suas fases boas, e é nisso que eu me agarro hoje em dia quando sofro de saudade. eu sei que deveria entender que no fundo estou melhor sem ele, que é uma pessoa que muitas vezes me desrespeitava, esmagava minha auto-estima e me deixava mal. Mas não consigo. Tudo que me lembro são os bons momentos e, como disse a minha psicóloga, "ruim com ele, pior sem". Não vou mentir que se hoje ele me ligasse e me quisesse de volta eu iria, sem pestanejar. Não sei explicar porque, só que me sinto muito sozinha e tenho pavor disso. é como o mundo funciona pra mim, estar sem ninguém dói demais, ainda mais com meus amigos também afastados.
Eu sei que ele não vai me ligar. Na verdade ele deve estar muito feliz sem mim, como algumas vezes fez questão de deixar claro, apesar de tudo que fiz por ele. Enquanto me apego nas coisas boas ele se apega nas ruins pra me categorizar como louca. Então me pego pensando se algum dia conseguirei alguém que me ame do jeito que sou. Não me orgulho das coisas ruins que fiz e se pudesse faria diferente. Mas não posso. Eram as cores do meu mundo e, sem elas, ficou tudo cinza. Não sei se tenho esperança em encontrar uma pessoa em que possa confiar. Ou uma pessoa que me queira de verdade. Tudo que eu acreditava que era fraqueza é simplesmente meu cérebro funcionando neste ritmo, então não deveria me culpar. Porém me culpo. E sei que é muito difícil encontrar alguém que não o faça.
PS: Receita de hoje: A stiff drink and a sharp blade.

(POST DE ABRIL/2013)
16 de set. de 2014

Não me Deixe! O Transtorno de Personalidade Borderline e o abandono. (1)



No ano 2000, eu passei pelo que as pessoas com TPB tem pavor: um abandono quase total. Um resumo da estória: minha igreja acreditava que meu problema mental era uma possessão demoníaca, e eu saí dela. Como resultado, quase todos os meus "velhos amigos" da igreja deixaram de falar comigo.
A memória é tão dolorosa que eu não sei direito como sobrevivi. Ainda assim eu o fiz e você pode sobreviver a um abandono real ou imaginário também.

A relação valia a pena?

Nos casos onde você se sente abandonado, esta deveria ser a primeira pergunta que devias fazer. O relacionamento valia a pena o sofrimento que você passou ou está passando? Era um relacionamento saudável? Você está melhor sem ele? Se a resposta for não, por que você está vivendo esta tristeza?

Isso não é para rebaixar a dor de perder um relacionamento. Mesmo em casos em que você está claramente melhor sem ele, ainda dói. Por exemplo, eu estava chateada quando terminei meu noivado com um homem abusive e promíscuo. Porém eu olhei para o relacionamento e percebi que eu estava melhor sem ele. eu realmente queria ser baleada com uma pistola de chumbinho quando ele se sentia meio sádico? Eu realmente queria ser traída com duas mulheres diferentes na mesma semana? A resposta era um enfático "não", e este insight me permitiu sobreviver o que eu sentia ser um abandono real.

O que estou perdendo e a que custo?

Esta também deve ser uma pergunta importante. O que no relaciomento que você está sentindo falta e está te deixando mal? Qual o preço dessa necessidade?

Na minha experiência com a igreja, eu sentia falta do senso de pertencer a algo. Eu estava com saudades de ser amada. Mas o preço era comprometer quem eu era. Eu tinha que negar o fato de que eu tinha uma doença, o que significava que eu não poderia ter um tratamento. Contando com o fato que eu estava frequentemente com pensamentos suicidas, psicótica ou ambos sem minha medicação, esta não era uma situação saudável. O custo de um relacionamento abusivo era simplesmente alto demais.

Você pode estar na mesma situação. Você pode sentir que tem que comprometer suas crenças mais profundas a fim de ser aceita. É importante lembrar que se você não é aceita como é, não é aceita de verdade.Se não podes ser você mesma, não és amada verdadeiramente. Esse preço vale a pena? Vale a pena sacrificar sua identidade por pessoas que querem que sejas diferente?

Posso encontrar esta minha necessidade em outro lugar?

Responder esta pergunta requere muita saúde mental e uma auto-imagem positiva, então tenha cuidado se você decide perguntar isso. A letra da música “Lookin’ for love in all the wrong places”  (música de Johnny Lee - traduzindo: Procurando o amor em todos os lugares errados) existe por uma razão.

No começo, eu encontrei este senso de aceitação no álcool. Ele deixava minha dor dormente e fazia ser mais fácil falar com as pessoas - ou eu pensava que era assim. Meus amigos de bar eram minha rede de apoio. Porém, eu percebi logo que beber piorava meus problemas. além de ter uma doença mental e sentir como que ninguém se importava, estava ficando alcoólatra. Estava me auto-medicando e isso fez meus sintomas psiquiátricos ficarem piores. Não sabia mais o que era o álcool e o que era a doença.

Eu eventualmente resolvi minha necessida de amor em outra igreja. Eles me aceitaram não importando meus problemas - apesar do alcoolisomo e do transtorno. Me encorajaram a procurar ajuda e me seguraram infinitas vezes por minhas ações. Ninguém ajuda ninguém tantas vezes se não se importar.
Embora você pode não querer encontrar o que procura com religião, há um grupo em algum lugar que vai te amar pelo que você é. Só tens que continuar procurando.

(tradução livre do artigo: Don’t Leave Me! BPD and Abandonment)

NOTA: A maioria dos textos informativos que coloco aqui são do blog sobre TPB no site Healthy Place - America's Mental Health Channel. Quem escreve este blog é Becky Oberg, uma border com tratamento. Escolhi-os porque acho a linguagem mais acessível e com exemplos reais, ao invés de muita linguagem científica, apesar de poder usá-la eventualmente. Aos que falam inglês e querem ler o texto na íntegra, basta acessar o link. Me esforço para que minha traduções sejam fidedignas.

Resolvi dividir este assunto em duas partes pois tenho MUITO  a falar sobre isso. Este medo de abandono, tão característico aos borders, foi a primeira coisa que me fez ter absoluta certeza de meu diagnóstico, além do fato de que minha crise se deu pelo término de meu namoro de 5 anos.
Então deixei para falar sobre minhas experiências num próximo post, pois ainda não respondi e consegui seguir nenhum destes conselhos citados no texto e, além disso, tenho que me preparar, já que este é um assunto deveras doloroso pra mim.

13 de set. de 2014

Borderline e a Auto-Imagem



Eu passei o dia inteiro lendo e vendo vídeos sobre o TPB, que me deu várias idéias para posts. O primeiro deles será falando sobre auto-imagem.
O indivíduo Borderline precisa da opinião e aceitação do outro para definir quem é. Temos um problema de aceitação e confiança em nós mesmos, fora um problema com a própria identidade. Sem saber quem somos, o outro nos define. Por isso é tão grande o problema com a rejeição, pois o abandono, real ou imaginário, significa uma perda de nós mesmos, visto que o outro muitas vezes nos define.

Queria falar um pouco da minha experiência sobre isso. Desde criança sou gordinha, muitas vezes muito gordinha, as vezes pouco. Tenho uma mãe que é muito ligada ao corpo e estas idéias acabaram por meio que me traumatizar um pouco. Sou colocada em dietas desde que me entendo por gente, desde comer só frutas à contagem de calorias diárias. Não como legumes nem verduras e, hoje em dia, os associo com dietas, pois era a única hora em que eu me via obrigada a comê-los. Sofri muito na minha pré-adolescência e adolescência, pois na escola eu sempre fui o patinho feio. As crianças colocavam apelidos em mim, riam, eu quase não tinha amigos, minhas paixonites eram sempre pelo menino mais lindo da escola, que não me dava a menor bola, obviamente. Sofria muito bullying calada, e cada vez mais acreditava que você precisava ser magra para ser feliz.

Minha mãe não me ajudava muito. Ao me colocar em intermináveis dietas, reforçava o quanto eu era imperfeita aos olhos do mundo. Até hoje, se alguém me chama de bonita, eu não acredito. Lembro de uma vez em que ela me obrigou a comer espinafre, eu querendo vomitar e ela insistindo.

Sempre me liguei aos outros excluídos das turmas, pois neles eu encontrava um pouco de aceitação. Com 15 anos me mudei de Brasília para Recife. Foi então que este bullying diminuiu um pouco, eu me aproximei de duas pessoas que também eram excluídas a seu modo, mas com a ajuda delas acabamos por construir uma estória na escola. Mas mesmo assim, nunca havia beijado ninguém.

Com 17 anos conheci meu primeiro namorado, cuja estória contei neste post aqui e para mim foi um mundo novo. Alguém que me amava, apesar de eu ser gorda! Porém eu sempre tive o medo que ele me trocasse por outra, principalmente mais bonita do que eu. Eu já morava em Curitiba nesta época. Bem, terminamos e minha insegurança aumentou. Porém tive a sorte de conhecer muitas pessoas legais que não se importavam pelo fato de eu estar acima do peso. Conheci outros meninos, beijei muito, namorei... Mas sempre com aquele pensamento que eu era gorda e que em qualquer momento iriam me deixar pelo fato de eu não me encaixar no padrões de beleza "aceitáveis".

Voltei pra Recife, foi tudo difícil pois sentia falta de meus amigos, comecei a ter a idéia fixa de me mudar até que... conheci meu ex-namorado. Ele é uma pessoa extremamente cativante, cabelo longo, toca violão, enfim. Muito político e preocupado com a opinião das pessoas, tanto que toda vez que eu contava a alguém o quanto ele era grosso e insensível, as pessoas se espantavam e diziam: "nossa, eu nunca podia imaginar!!". eu me sentia insegura 90% do tempo, como se qualquer menina com um corpinho mais esbelto pudesse tomá-lo de mim. Não ajudou muito o fato dele ter seus problemas com sexo e ficarmos 1 ano sem relações. Minha auto-estima, já baixa, foi pro chão.

E é assim que ela continua. Como falei acima, o border precisa da opinião das pessoas para definir seu "eu" e, as opiniões que eu tinha eram muito negativas. Meu ex não me elogiava muito, minha mãe... Bem, minha mãe continuou a mesma. Lembro de estar indo ao trabalho e ela me ver com um vestido e dizer algo como: "nossa, se você estivesse 5 quilos mais magra ia ficar tão melhor!" ou "murcha esta barriga!". Estes comentários acabavam com meus dias, pois me sentia feia e gorda.

Na verdade ainda me sinto assim. Mesmo tendo perdido muitos quilos nessa minha depressão, ainda me sinto feia. Tenho certeza que meu ex está com alguém mais bonita e principalmente mais magra do que eu. Olho no espelho e vejo alguém sem atrativos, nada além de belos olhos verdes (a única parte de mim que admiro). Vou para as lojas e me frustro por não terem meu número, me envergonhava em comprar roupas com meus namorados pra eles não saberem o número de minhas calças, ou não presenciarem a minha decepção por ver uma roupa e não poder comprá-la porque esta não cabia em mim.

Sei que devia terminar este longo post com uma mensagem tipo: "então eu aprendi a me amar blablabla" mas não me sinto assim no momento. Ainda me olho no espelho e vejo alguém que fisicamente e psicologicamente não merece ser amada. Ainda não acredito em elogios, nem que eu vá conseguir me ver de forma diferente, pois esta é a minha realidade. Espero que, com a terapia isso mude e que o espelho melhore a imagem que eu sempre vejo...