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29 de jan. de 2014

Depoimento: Ser border...


(via e-mail, por J.)



Me chamo J., tenho 25 anos, sou psicologa não atuante. Como muitos de nós aqui tive 2 diagnósticos iniciais incorretos, sendo o primeiro depressão aguda, depois Bipolaridade e por fim a alguns meses encontrei um psiquiatra brilhante, que foi capaz de me dizer exatamente que sou Borderline. Sou confessa do meu "pré-conceito" comigo mesma, por ter formação em saúde mental, e achar por pura bobagem que eu seria imune a esse tipo de coisa, besteira minha, logico. Entre mutilações, crises extremas de raiva, implosão, mudança de medicação, enfim, todas essas coisas que nos acometem. Hoje eu consigo pensar antes de agir, minha impulsividade diminui bastante, de modo que nunca mais me machuquei, mas desde que comecei o tratamento me sinto um pouco "anestesiada", como somos de natureza extremamente intensos, esse é o nosso bem e o nosso mal ao mesmo tempo, as coisas se tornaram um pouco mornas pra mim, como se as coisas tivessem se tornado um pouco sem graça. Meu médico sempre aponta isso como sendo que nós temos uma dificuldade em lidar com a melhora, por estarmos habituados as explosões, quando vem a calmaria isso fica meio distorcido, é o mesmo que se habituar com a estabilidade.
Tenho dificuldade de me relacionar intimamente com alguém, pela insegurança, a distorção das coisas, e a pior coisa pra mim nisso tudo que é a desconfiança, é difícil confiar em alguém, eu fiz um "juramento" em terapia, aonde eu escolhi abrir mão de ter uma vida "normal" em sentido de namoro, casamento e afins, em troca de ter um pouco de paz dentro dessa minha bagunça. Ser só é bastante triste, mas dói menos que viver uma paranóia insuportável e nociva.


Cada dia um novo sintoma, um novo aprendizado, uma nova chance...


25 de jan. de 2014

Trocando Experiências (e-mails)




Oi gente! Percebi com o tempo que os e-mails que recebo podem ser as dúvidas de qualquer um. Então vou responder alguns deles aqui, obviamente respeitando o anonimato das pessoas!



Aproveitei a mão estendida (seu site) e quero me salvar: me indique, por favor, um profissional que me ajude? Tenho mais de 15 anos de diagnósticos, internações, medicações e crises no meu currículo, mas nunca nada me fez efeito. Em crise, me dopavam. Estabilizada, eu fugia. Drogas, álcool e comida. Tenho me domado, mas cada recaída é uma morte. E nada, nunca me ajudou de verdade. Uma medicação me levou ao hospital, por grave reação. Isso pq o médico previa isso e não me acudiu qdo aconteceu. Bom, enfim, se vc puder me ajudar, me indicando alguém em são paulo, eu agradeceria. Palavras não são só palavras. Parabéns.
(por V.)

Infelizmente eu escuto muitos casos como o seu, gente que está lutando há anos... Eu acho que eu dei sorte, pois minhas psicólogas e psiquiatras foram de ajuda desde o início. Infelizmente, e isso serve pra quem já me perguntou isso, não sou de São Paulo, por isso não tenho como indicar um profissional... Acho que nem aqui onde eu moro, pois o contato que tenho é com as minhas somente... 
O que posso dizer? Tente mais. Faça exercícios (recomendo muito a ioga), cuide da alimentação, nunca deixe a terapia. Em SP você deve encontrar profissionais que são especializados na Terapia Dialética Comportamental e, se não, talvez a Terapia Cognitivo-Comportamental te ajude!


Oie...descobri recentemente que tenho essa doenca. Soh me interessei em descobri pois terminei meu relacionamento recentemente e estou no fundo do poço...fui mandada.embora do meu emprego e soh penso em morrer diariamente. Por favor se tiver algum aconselhamento. Eu não aguento mais. Vivi a vida inteira sofrendo. Obrigada 
(por J.)

J., eu sei bem o que é isso. Não sei quantos anos você tem mas se você ler o blog do começo, vai ver que foi o que me fez descobrir que tenho TPB também. Já estive lá, perdi tudo, pensava em morrer todos os dias, me cortava sempre... O que te dizer? Se eu consegui, porque você não vai? Primeiro passo: terapia+medicação. Depois, quando tiver mais forte, exercícios. Cuide da saúde. Leia sobre o TPB, nesse caso a ignorância NÃO é uma benção, entender como funcionamos ajuda a compreender nossas reações.
Eu sei que no momento parece que não vai passar nunca, a dor é grande demais. Então se preocupe em passar um dia após o outro. Com o tempo as respostas chegarão.



Olá, tive um relacionamento com uma pessoa borderline. Ao segundo mês de namoro deixou-me a dizer que entou amar-me e nao conseguia mas é importante ressaltar que vivia dizendo que me amava que queria ter filhos comigo, enfim...a promessa de um amor eterno. Agora, veio com a mesma conversa...e eu efetivamente não tenho mais condições de sofrer, e a pessoa em questão ainda não fez uma semana já vai ter outro encontro pois diz que precisa de amar alguem por quem sinta amor. A questão é: será que vai querer voltar com as desculpas anteriores?
(por J.M.)

Olha, a gente que é border PRECISA de tratamento. Ponto final. Então a primeira pergunta seria essa, se ela está em tratamento. Porque se não está, tudo fica muito difícil, não por culpa dela. Eu entendo esta pessoa, eu mesma estou sentindo a maior falta de me apaixonar, a gente vive de sentimentos... Mas eu tenho consciência de meus sintomas, e ela? Se proteja primeiro, pois com certeza não vai fazer bem para esta pessoa que você se desestabilize. Tente entender o que sente também. Se esta pessoa te ama de verdade, vai querer se tratar, melhorar e não te fazer sofrer, pois sabe que se fazemos isso não é intencional, mas a maneira que temos de lidar com abandonos que existem na nossa cabeça.
Converse com ela. 


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Fico super com dor na consciência quando não tenho tempo de responder todos os e-mails que recebo, então resolvi criar esta coluna. Se alguma destas pessoas se sentir exposta de qualquer forma, me mande um e-mail que retiro o post prontamente. 

Achei interessante colocar isso aberto aqui pra todo mundo ver: vocês não estão sozinhos!

Quer mandar sua pergunta ou sua história? Escreve pra mim!
borderlineggirl@gmail.com


10 de jan. de 2014

Medicamentos para o TPB




Existem duas razões do porque remédios são usados no tratamento do Transtorno de Personalidade Borderline. Primeiro, eles provadamente ajudam em estabilizar as reações emocionais, reduzindo a impulsividade e aprimorando as habilidades de racionar logicamente em pessoas com o transtorno. Segundo, os remédios são eficazes em tratar os outros transtornos que estão frequentemente associados com o TPB, como a depressão e ataques de pânico e os transtornos físicos como a enxaqueca.

É muito difícil para os borders aprenderem sobre si mesmos e seu transtorno, a lidarem eficazmente com seus problemas e fazerem progressos reais na terapia quando eles não conseguem controlar suas reações emocionais e sua impulsividade, quando não conseguem pensar racionalmente. Muitas pessoas com o TPB sentem-se como se estivessem lutando uma guerra perdida porque sabem que não deveriam permitir que suas emoções e que seu comportamento fugissem do controle, porém não são capazes de parar. Você deve saber muito bem como é estar frequentemente frustrado porque não controla os impulsos e sentimentos, porque é incapaz de raciocinar sob stress.

Por exemplo: é importante que você permaneça conectado com seus sentimentos e conflitos internos e não tente escapar deles enquanto lida com uma situação delicada, como separações e luto. Esses são os momentos quando você fica mais propenso a desistis do processo terapêutico e agir das formas mais auto-destrutivas (por exemplo: começar a beber, se cortar ou usar drogas). Essa situação é ainda mais frustrante porque as outras pessoas não compreendem porque você perde o controle de vez em quando. Eles acham que você é assim porque quer.

Você e sua família podem ficar prazerosamente surpresos e aliviados ao aprender que as medicações podem ajudar a reduzir a maioria dos sintomas mais complicados a um nível mais tolerável. E então você lidará melhor com as situações difíceis e a lidar com os conflitos.


(Eu uso 3 tipos de remédios: antidepressivo, moderador de humor e antipsicótico - sim, antipsicótico! A Quetiapina. Quando questionei minha psiquiatra do porquê eu estar usando este tipo de remédio, ela me disse que ela agia como estabilizador de humor, mas eu sempre fiquei com a pulga atrás da orelha. Até que achei esta explicação, que com certeza vai servir pra muita gente)

Neurolépticos e Agentes Psicóticos atípicos

Este é o grupo de medicações que tem sido mais estudado para o tratamento do TPB. Os neurolépticos foram a primeira geração de medicamentos usados para tratar transtornos psicóticos. Neles estão incluídas a clorpromazina, Trifluoperazina, haloperidol, tiotixeno e alguns outros. Os antipsicóticos atípicos são a segunda geração de remédios desenvolvidos para tratar os transtornos psicóticos. Estão incluídos neste grupo a clozapina, a olanzapina, risperidona, quetiapina, ziprasidona e o aripiprazol. 


Nas suas dosagens normais, estes medicamentos são muito eficazes em melhorar o pensamento desordenado, respostas emocionais e comportamentos de pessoas com outros transtornos mentais como o transtorno bipolar e a esquizofrenia. Porém em dosagens menores são muito úteis em diminuir as respostas emocionais exageradas e a impulsividade, e a melhorar a habilidade de pensar e argumentar em pessoas com o TPB. Dosagens baixas dessa medicação muitas vezes reduzem humores depressivos, raiva e ansiedade e diminuem a severidade e a frequência de atos impulsivos. Além disso, pacientes com o TPB reportam melhora na sua habilidade de pensar racionalmente. Há também uma redução ou eliminação do pensamento paranóide, se existe este problema.

Existem 7 estudos publicados sobre a ação de neurolépticos e agentes antipsicóticos atípicos em pessoas com o transtorno de personalidade borderline. Seis deles mostraram resultados positivos. O American Psychiatric Association publicou um suplemento em seu jornal - o The American Journal of Psychiatry  - intitulado "Guia Prático para Tratamento de Pacientes com o Transtorno de Personalidade Borderline". Nele os neurolépticos e os agentes psicóticos são recomendados para pessoas com o TPB que tem sintomas como pensamento deturpado - como a paranóia, depressão, ansiedade, impulsividade e comportamento auto-destrutivo.

O uso deste medicamentos para o tratamento do TPB também é apoiado por achados em pesquisas que sugerem que eles podem exercer seus efeitos terapêuticos por ações em receptores específicos de dopamina, ou dopamina e serotonina. Atividades anormais destes dois neurotransmissores tem sido considerados fatores de risco para o transtorno de personalidade borderline. 

(tradução livre/edição das páginas 135, 136 e 138 do livro "Borderline Personality Disorder Demystified" - autor: Robert O. Friedel, MD)

* Existem outros grupos de medicamentos que auxiliam o tratamento do TPB, falarei sobre eles depois!