Amigos:

30 de set. de 2014

It Girl



"It girl" é um termo utilizado para se referir a mulheres, geralmente muito jovens, que, mesmo sem querer, criam tendências, despertam o interesse das pessoas em relação ao seu modo de vestir, de andar, pensar ou ser. As "it girls" têm via de regra o que muitos chamam de "carisma", algo que atrai a atenção para elas. Sua característica mais determinante é serem incomuns, destacarem-se das pessoas comuns e provocar interesse, a ponto de outras pessoas passarem a copiar seu jeito de vestir, falar e/ou agir. Normalmente as "it girls" comportam-se de maneira irreverente e despertam a curiosidade das pessoas sobre o seu modo de vida.
(Wikipedia)

Descobri que sou uma It Girl. Não, não é porque todos admiram meu jeito fashion, meu carisma inigualável e meu fascinante modo de pensar. É porque tenho um transtorno.

Virou moda ter um problema psicológico. É cult se dizer sofrida, espancada pela vida, cheia de cicatrizes na alma. Falando nelas, foi quando me deu o insight de escrever este texto. Numa conversa com uma amiga, ela me contou que numa fan page de borderline no facebook, a menina perguntou pra ela como era o melhor jeito de se cortar.
Oi?

Como assim alguém acha bonito se cortar? Como se fosse algo que podemos estar gritando aos quatro ventos, como uma qualidade a qual ninguém pode se igualar, um prêmio, uma dádiva. Acho que o mundo está mais doente do que eu.

Mas acho que tenho que colocar a bipolaridade no meu diagnóstico, pois mais cult que ser borderline é ser bipolar. Culpa da Britney Spears e seu guarda-chuva ameaçador. Ou da Amy Winehouse. Toda adolescente que se preza, com sua maquiagem carregada, roupa preta brilhando ao sol e olhar sofredor tem que ser bipolar. Tem que ter uma fase de odiar o mundo, porque tenho um transtorno horrível que me faz "feliz" um dia e "triste" em outro. Faz ter um status.

Faça-me o favor. Achar bonito sentir um vazio que a gente não sabe de onde vem, pegar uma lâmina e rasgar a pele, entrar em depressão por dias, meses, sem esperança de ver uma tênue luz ao fim do túnel (eu nem túnel to vendo mais), sentir seu mundo se abrindo aos seus pés porque um cara terminou com você não pode ser achado legal.
Mas é. Ser feliz é last season.

Então criamos um exércitos de mentes sãs procurando insanidade onde não tem. Que admiram a escuridão (talvez seja uma relação com os meigos vampiros da Stephenie Meyer) ao invés da luz. Que querem se espelhar em pessoas com verdadeira dor na alma ao seguir exemplos de superação. 

Já que é cool ser sofrido, pode me colocar aí num topo de algum ranking. Afinal, além de tudo tenho um blog. Melhor do que isso seria se eu postasse vídeos contando minha trajetória, aparecesse num programa de televisão e... Ops. Já fiz isso também.
Que esta loucura do mundo acabe logo, que surja uma nova moda, bolinhas de gude na orelha, sapatilha laranja ao contrário, viajantes do tempo que acabam na terra da magia, eu não sei. Qualquer coisa. 

Afinal de contas, se ser It Girl é isso...Obrigada mas, não obrigada.

(post de maio/2013)
25 de set. de 2014

Eilan.



Avalon. Berço da sabedoria da Britannia, envolta em suas névoas de mistério e beleza. É neste lugar mágico que nasce Eilan, sobrinha da poderosa Ganeda, a Senhora do Lago detentora dos segredos e responsável pela condução da Profecia: uma sacerdotisa gerará o herdeiro da terra. Criada pelo pai até os dez anos de idade sob o nome de Helena, Eilan volta a Avalon para ser instruída nos ensinamentos seculares, e, durante o processo de descoberta de sua verdadeira identidade, recebe a dádiva, por meio de uma visão: será a mãe do Prometido. A tia, que tem outros planos, opõe-se a ela ferozmente. Invocando a Deusa, expulsa a sobrinha quando esta se apaixona por Constantius, oficial do exército romano.

Eles fogem e vivem um amor intenso, interrompido quando Constantius se torna imperador – a origem de Helena não seria bem aceita nos círculos do poder. Constantino, filho do casal, desenvolve aptidões para o exército e uma ambição desmedida. Mesmo distante dos antigos cultos e cerimônias nas quais foi instruída, Helena mantém sua ligação com a Deusa e seus talentos de sacerdotisa. Ela viverá de perto toda a conturbação política de seu tempo e o conflito de retomar ou não seu lugar junto à Ganeda e às demais sacerdotisas.

A sacerdotisa de Avalon é uma obra póstuma de Marion Zimmer Bradley, concluída por sua colaboradora, Diana L. Paxson. A partir dos mitos e lendas, as autoras desenvolveram uma saga que acrescenta os mistérios de Avalon à bela figura de Helena. E contam uma parte da história da formação de valores cristãos em substituição aos cultos pagãos na Europa do século III.

À mitológica Helena, figura reverenciada na Alemanha, em Israel e Roma e aclamada como santa nas igrejas que levam o seu nome, são atribuídas a descoberta de relíquias, a responsabilidade de levar as cabeças dos três Reis Magos para Colônia, o Manto que Jesus usava para Trier e a Verdadeira Cruz para Roma. Acredita-se que era uma princesa bretã que se casou com um imperador, que tenha vivido em York e em Londres, e estabelecido estradas no País de Gales.

Helena/Eilan é a testemunha com visão privilegiada do tempo de formação dos valores ocidentais irreversíveis. Valores que não admitem mistérios de vários deuses ou as brumas que acolhem as profecias advindas da luz.

A parte romana que o livro narra é real. É a história de Santa Helena. A que encontrou o Santo Sepulcro. É a história do Imperador Constantino, um dos alicerces da Igreja Católica, hoje.

(Fontes: aqui aqui)

* Esta é a estória de Eilan, da onde vem meu pseudônimo.

Ia postar sobre outra coisa hoje, mas eu mudei de idéia ao ver um post no blog da H. onde, se eu entendi bem, ela reclama porque alguém deve ter falado algo porque ela postou uma música Gospel anteriormente. Fiquei deveras irritada. Não gosto de comentar sobre minha religião aqui, mas hoje vou falar. Sou pagã. Não, não sou atéia, que não acredita em nada, acredito num Deus e em uma Deusa e reverencio a natureza.

Mas o mais importante: sou adepta à diversidade religiosa. Acho que todos temos que nos respeitar, fazer o bem. Não importa se a pessoa é evangélica, católica, protestante, espírita, umbandista... Cada um, assim como muitas outras coisas na vida, tem direito a fazer suas escolhas. Seria muito sem graça se tivéssemos somente um caminho a seguir.

Quero deixar claro que adoro quando me falam nos comentários sobre Deus e Jesus. Acredito que ele foi um ser iluminado e com certeza as pessoas que me desejam as coisas que ele pregou estão me mandando amor.

Agora, por favor. Respeitemos as escolhas. Chega de Felicianos da vida que se acham superiores porque tem uma crença qualquer. É por isso que temos tantas guerras no mundo. Pois a paz, que é a coisa em comum na maioria dos dogmas de todas estas religiões do mundo, não é bem compreendida por nós, meros mortais.

"Todos os Deuses são um Deus, e todas as Deusas uma Deusa. E a cada homem sua verdade, e Deus com ela."

As Brumas de Avalon
23 de set. de 2014

Rock and Roll.


Comecei a escrever este texto sobre a relação do Rock e do TPB pra mim mas... Fez mais sentido que ele fosse em inglês. Para os que falam o idioma, sugiro que leiam só a versão original, pois a tradução ficou boa porém não tem o mesmo espírito.

Are you a Rock'n'roll Girl? I truly believe I am one of these. Spirit wearing fancy and scratched All Stars, heavy makeup on. And that bad attitude, not caring, not giving a shit.

I have been starting to believe rock'n'roll has everything to do with Borderline Personality Disorder. Wild, madly crazy people. The sounds that hipnotize us are not quiet strings of an opera aria, but heavy hard core guitar solos on fire. Screaming with the last spark of voice left inside our lungs. Spreading vodka on the air. Eyes numbed by the smoke around, where are we?

Best poetry I've ever heard, sorry for the ones who are fond of the classics, came out of the (wonderful) throats of Eddie Vedder. Laney Staley, Chris Cornell, John Lennon, Janis Joplin. And my prince, Sir Paul McCartney. They take you away, but not to a very warm and tidy place, but to a room full of mess: inside your own mind.

And isn't it what we are, fellow borders? A room of mess, a pool of deep feelings, all entangled in a way that we can hardly ever figure out? Life of screams for freedom, can't we even free ourselves from our own thoughts? Just as drums beat, we wander around the ambience, taking everywhere, filling everywhere with our simpathy, empathy, craziness, sadness and shall we give people a break? No. The beats never stop. They stump, and stumble, and bump, and banish ordinary around. Even from dreams.

Can we be, even for a moment, mere ordinary people? I wish. Or not. Drugs taken, theraphy attended, but inside ourselves we are and will always be rock'n'roll people. We are the sounds that take everybody over. No matter how we do it and honestly we don't give a fuck, we live. Like a rock'n'roll oncert, with thousands of people singing along a chorus sometimes they don't understand, as if they were connected in an enchanted net, they keep going.

And that's who we are, my friends. Crazy rock'n'roll chords that only rock'n'roll people get. And the good news are: even with the therapy, meds, mind training, control... The verses will keep on playing. On our mind.

TRADUÇÃO:

Você é uma garota Rock'n'Roll? Eu realmente acredito que sou uma dessas. Um espírito calçando All Stars chiques e arranhados, maquiagem pesada na cara. E toda aquela atitude má, não dando a mínima.

Comecei a acreditar que o rock'n'roll tem tudo a ver com o transtorno de personalidade borderline. Pessoas selvagens, enlouquecidamente insanas. Os sons que nos hipnotizam não são as notas quietas de uma aria em uma ópera, mas pesados e hard core solos de guitarra pegando fogo. Gritando com a última centelha de voz ainda restante em nossos pulmões. Jogando vodka pelos ares. Onde estamos?

Desculpem-me aqueles que são fãs dos clássicos, mas a melhor poesia que já escutei saiu das gargantas (maravilhosas) de Eddie Vedder. Laney Staley, Chris Cornell, John Lennon, Janis Joplin. E de meu príncipe, Sir Paul McCartney. Eles te levam pra longe, porém não para um lugar quentinho e arrumado, mas para para um quarto repleto de bagunça: dentro de sua mente

E não é o o que somos, colegas borders? Um quarto bagunçado, uma piscina de sentimentos, todos emaranhados de tal forma que nós raramente conseguimos compreender? Vida de gritos por liberdade, não podemos sequer libertar-nos de nossos próprios pensamentos? Tal como as batidas da bateria, vagamos pelo ambiente, pegando tudo, preenchendo tudo com nossa simpatia, empatia, loucura, tristeza e será que deveríamos dar um tempo a eles? Não. As batidas nunca cessam. Elas batem pesado, tropeçam, impactam e banem o normal a volta. até mesmo dos sonhos.

Podemos ser, mesmo que por um momento, meras pessoas normais? Queria que sim. Ou não. Remédios tomados, terapias seguidas, mas dentro de nós mesmos ainda somos e sempre seremos pessoas rock'n'roll. Somos os sons que levam a todos. Não importa como fazemos isso e honestamente estamos pouco se fodendo, só vivemos. Como um show de rock, com milhares de pessoas cantando juntas acordes que as vezes não compreendem, como se conectados em uma teia encantada, eles continuam.

Isso é o que somos, meus amigos. Acordes loucos de rock, que só pessoas rock'n'roll entendem. E a boa notícia é: mesmo com a terapia, remédios, treinamento mental, controle... Os versos continuarão a tocar. Em nossa mente.


Mad Season - Lifeless Dead

Curiosidade: A banda que canta é o Mad Season.

Mad Season foi uma banda grunge estado-unidense criada em 1994 como um projeto paralelo de integrantes de outras bandas com base em Seattle e do sub-gênero, o que a conferiu a alcunha de supergrupo grunge. Formada pelo guitarrista Mike McCready do Pearl Jam, o vocalista Layne Staley do Alice in Chains, o baterista Barrett Martin do Screaming Trees e o baixista John Baker Saunders, o grupo fazia um som diversificado a partir de uma mistura entre blues e hard rock.


(Wikipedia)

TRADUÇÃO:

Morto Sem Vida

Morto sem vida, aquele leito impuro
Até ou quando o desejo dela foi satisfeito
Como ele tinha desejado que eles se casassem
"Eu prometo pelo nosso amor" ela disse
Promessas nunca foram cumpridas
Sozinho em chão sujo ele dormiu

Yeah, morto sem vida

E apesar de que ele não tivesse acreditado
Ela havia ido embora e assim ele chorou
Então um demônio veio a ele
"Você deve saber que eu vou vencer"

Yeah, morto sem vida

Ele disse, ela disse
Ela o guiou a morte
Ele disse, nós sofremos
Ela disse, mas não tentou

Morto sem vida, morto sem vida

(essa devia ser música borderline também...)
21 de set. de 2014

Não me deixe! O transtorno de personalidade Borderline e o abandono. (2)


(POST DE MARÇO/ABRIL DE 2013)

Como eu disse no post anterior, eu tenho muito a falar sobre este tema de abandono. quando eu li que este era um dos sintomas do transtorno, muita coisa fez sentido pra mim, pois estar sozinha foi sempre meu maior medo.

Fiz coisas que na época eu não entendia, ou não pensava muito no assunto, achando que era minha reação, ou as vezes me culpando por minhas atitudes, por não ter a força necessária para lutar contra aquilo.
Eu tive mais problemas com isso durante meu primeiro relacionamento e este último. quando me mudei para Curitiba para ficar com meu ex-noivo, aguentei toda sorte de coisas para não deixá-lo. Ele, por exemplo, estava envolvido com outra menina que ele conheceu na internet e eu sabia. Toda noite, depois que eu me deitava no quarto dele, ele ia para o computador para falar com ela, e eu escutava tudo. Quando brigávamos, eu perdia totalmente o controle. Partia pra cima dele, esmurrava, batia e dizia que ia me jogar pela janela, enquanto ele me segurava. Eu digo que se ele não me segurasse eu me jogaria mesmo, na adrenalina da discussão. Depois comecei a fazer chantagem, após minha tentativa de suicídio, dizendo que se ele terminasse comigo eu me mataria. Isso segurou ele por um tempo, mas para mim era a morte, pois eu me sentia pior sabendo que ele estava comigo porque eu havia dito que ia me suicidar. Pouco tempo depois retirei a chantagem e continuamos juntos mesmo assim, mas terminaríamos pouco tempo depois, também porque ele havia arranjado outra pessoa. Lembro-me que ele estava trabalhando em Campinas e quando me disse ao telefone que iríamos terminar, peguei um ônibus no outro dia e fui bater no hotel dele. Tivemos uma discussão grande dentro do seu carro, e foi a primeira vez que ele devolveu os tapas que eu lhe dava (não, não o culpo, ele nem bateu forte e eu merecia depois de tantos que eu havia dado nele.). A coisa ficou tão evidente que um carro de polícia nos parou perguntando se havia algo errado. Acabou que não importou o quanto eu chantageasse, lutasse, me humilhasse... Ele terminou comigo.
Com meu ex a situação não era muito diferente, era até pior. Tenho que explicar que desde o início nosso relacionamento foi conturbado, estávamos ficando por 10 meses antes dele finalmente oficializar o namoro, e como mesmo assim vivíamos juntos todos os dias, isso bagunçava com minha cabeça e me deixava insegura. todos os dias eu pensava que ele podia encontrar uma garota melhor que eu e me largar. Mesmo quando oficializamos eu ainda tinha isso na cabeça. Ao contrário do meu ex-noivo, meu ex-namorado não tinha a menor paciência, tato e consideração. Durante a maioria das brigas ele me dizia coisas horríveis, que não me aguentava, que estava melhor solteiro, que eu era uma "crazy bitch" e eu, o que fazia? Me descontrolava, ao invés de ir embora. Empurrava ele, quebrava coisas, tinha crises de choro que muitas vezes terminavam em desmaios. Ele também tinha o péssimo hábito de querer ir embora durante qualquer discussão, ou se eu estava na casa dele, ele me expulsava de lá. Quando isso acontecia, para mim era a morte. Na minha cabeça, ele não voltaria mais, me ligaria no outro dia dizendo que tudo estava acabado. Então eu me ajoelhava, segurava a chave o meu apartamento, a mochila dele, tomava o celular de sua mão enquanto ele chamava o taxi, ia atrás quando o táxi chegava e me jogava dentro dizendo que iria com ele, isso entre escândalos em que os porteiros eram as testemunhas, ou qualquer outro que estivesse passando.

Como ele era muito grosso durante as brigas, não passava pela minha cabeça que ele voltaria. Para mim, alguém que falava as coisas que ele me falava não podia nutrir sentimentos por mim. Quando ele ia embora durante as brigas eu ligava milhões de vezes, mandava mensagens dizendo que ele não me amava, isso sem contar que eu ficava tão mal que no outro dia muitas vezes não iria trabalhar.
Todos me perguntavam do porquê de eu estar com ele, devido a todas as brigas e muitas vezes grosserias comigo na frente de outras pessoas. eu respondia: "não tenho forças de deixá-lo". Hoje eu entendo que eu sabia já o que se passava, sabia que eu não era forte, mas eu achava que eu era simplesmente fraca.

Hoje, olhando pra trás, penso em como tudo teria sido diferente se eu tivesse entrado na terapia mais cedo, ou se tivesse começado a me tratar mais cedo. Pois o estopim de minha crise foi exatamente quando terminamos, em nossa derradeira discussão, os dois bêbados, eu saí da casa dele, entrei no mar de roupa e tudo desesperada, depois voltei e ele me expulsou aos gritos na frente de toda sua família. O motivo da discussão? Facebook. Uma coisa banal que explodiu em mágoa e raiva.
Quero deixar claro que não era de todo ruim, ele tinha suas fases boas, e é nisso que eu me agarro hoje em dia quando sofro de saudade. eu sei que deveria entender que no fundo estou melhor sem ele, que é uma pessoa que muitas vezes me desrespeitava, esmagava minha auto-estima e me deixava mal. Mas não consigo. Tudo que me lembro são os bons momentos e, como disse a minha psicóloga, "ruim com ele, pior sem". Não vou mentir que se hoje ele me ligasse e me quisesse de volta eu iria, sem pestanejar. Não sei explicar porque, só que me sinto muito sozinha e tenho pavor disso. é como o mundo funciona pra mim, estar sem ninguém dói demais, ainda mais com meus amigos também afastados.
Eu sei que ele não vai me ligar. Na verdade ele deve estar muito feliz sem mim, como algumas vezes fez questão de deixar claro, apesar de tudo que fiz por ele. Enquanto me apego nas coisas boas ele se apega nas ruins pra me categorizar como louca. Então me pego pensando se algum dia conseguirei alguém que me ame do jeito que sou. Não me orgulho das coisas ruins que fiz e se pudesse faria diferente. Mas não posso. Eram as cores do meu mundo e, sem elas, ficou tudo cinza. Não sei se tenho esperança em encontrar uma pessoa em que possa confiar. Ou uma pessoa que me queira de verdade. Tudo que eu acreditava que era fraqueza é simplesmente meu cérebro funcionando neste ritmo, então não deveria me culpar. Porém me culpo. E sei que é muito difícil encontrar alguém que não o faça.
PS: Receita de hoje: A stiff drink and a sharp blade.

(POST DE ABRIL/2013)
16 de set. de 2014

Não me Deixe! O Transtorno de Personalidade Borderline e o abandono. (1)



No ano 2000, eu passei pelo que as pessoas com TPB tem pavor: um abandono quase total. Um resumo da estória: minha igreja acreditava que meu problema mental era uma possessão demoníaca, e eu saí dela. Como resultado, quase todos os meus "velhos amigos" da igreja deixaram de falar comigo.
A memória é tão dolorosa que eu não sei direito como sobrevivi. Ainda assim eu o fiz e você pode sobreviver a um abandono real ou imaginário também.

A relação valia a pena?

Nos casos onde você se sente abandonado, esta deveria ser a primeira pergunta que devias fazer. O relacionamento valia a pena o sofrimento que você passou ou está passando? Era um relacionamento saudável? Você está melhor sem ele? Se a resposta for não, por que você está vivendo esta tristeza?

Isso não é para rebaixar a dor de perder um relacionamento. Mesmo em casos em que você está claramente melhor sem ele, ainda dói. Por exemplo, eu estava chateada quando terminei meu noivado com um homem abusive e promíscuo. Porém eu olhei para o relacionamento e percebi que eu estava melhor sem ele. eu realmente queria ser baleada com uma pistola de chumbinho quando ele se sentia meio sádico? Eu realmente queria ser traída com duas mulheres diferentes na mesma semana? A resposta era um enfático "não", e este insight me permitiu sobreviver o que eu sentia ser um abandono real.

O que estou perdendo e a que custo?

Esta também deve ser uma pergunta importante. O que no relaciomento que você está sentindo falta e está te deixando mal? Qual o preço dessa necessidade?

Na minha experiência com a igreja, eu sentia falta do senso de pertencer a algo. Eu estava com saudades de ser amada. Mas o preço era comprometer quem eu era. Eu tinha que negar o fato de que eu tinha uma doença, o que significava que eu não poderia ter um tratamento. Contando com o fato que eu estava frequentemente com pensamentos suicidas, psicótica ou ambos sem minha medicação, esta não era uma situação saudável. O custo de um relacionamento abusivo era simplesmente alto demais.

Você pode estar na mesma situação. Você pode sentir que tem que comprometer suas crenças mais profundas a fim de ser aceita. É importante lembrar que se você não é aceita como é, não é aceita de verdade.Se não podes ser você mesma, não és amada verdadeiramente. Esse preço vale a pena? Vale a pena sacrificar sua identidade por pessoas que querem que sejas diferente?

Posso encontrar esta minha necessidade em outro lugar?

Responder esta pergunta requere muita saúde mental e uma auto-imagem positiva, então tenha cuidado se você decide perguntar isso. A letra da música “Lookin’ for love in all the wrong places”  (música de Johnny Lee - traduzindo: Procurando o amor em todos os lugares errados) existe por uma razão.

No começo, eu encontrei este senso de aceitação no álcool. Ele deixava minha dor dormente e fazia ser mais fácil falar com as pessoas - ou eu pensava que era assim. Meus amigos de bar eram minha rede de apoio. Porém, eu percebi logo que beber piorava meus problemas. além de ter uma doença mental e sentir como que ninguém se importava, estava ficando alcoólatra. Estava me auto-medicando e isso fez meus sintomas psiquiátricos ficarem piores. Não sabia mais o que era o álcool e o que era a doença.

Eu eventualmente resolvi minha necessida de amor em outra igreja. Eles me aceitaram não importando meus problemas - apesar do alcoolisomo e do transtorno. Me encorajaram a procurar ajuda e me seguraram infinitas vezes por minhas ações. Ninguém ajuda ninguém tantas vezes se não se importar.
Embora você pode não querer encontrar o que procura com religião, há um grupo em algum lugar que vai te amar pelo que você é. Só tens que continuar procurando.

(tradução livre do artigo: Don’t Leave Me! BPD and Abandonment)

NOTA: A maioria dos textos informativos que coloco aqui são do blog sobre TPB no site Healthy Place - America's Mental Health Channel. Quem escreve este blog é Becky Oberg, uma border com tratamento. Escolhi-os porque acho a linguagem mais acessível e com exemplos reais, ao invés de muita linguagem científica, apesar de poder usá-la eventualmente. Aos que falam inglês e querem ler o texto na íntegra, basta acessar o link. Me esforço para que minha traduções sejam fidedignas.

Resolvi dividir este assunto em duas partes pois tenho MUITO  a falar sobre isso. Este medo de abandono, tão característico aos borders, foi a primeira coisa que me fez ter absoluta certeza de meu diagnóstico, além do fato de que minha crise se deu pelo término de meu namoro de 5 anos.
Então deixei para falar sobre minhas experiências num próximo post, pois ainda não respondi e consegui seguir nenhum destes conselhos citados no texto e, além disso, tenho que me preparar, já que este é um assunto deveras doloroso pra mim.

13 de set. de 2014

Borderline e a Auto-Imagem



Eu passei o dia inteiro lendo e vendo vídeos sobre o TPB, que me deu várias idéias para posts. O primeiro deles será falando sobre auto-imagem.
O indivíduo Borderline precisa da opinião e aceitação do outro para definir quem é. Temos um problema de aceitação e confiança em nós mesmos, fora um problema com a própria identidade. Sem saber quem somos, o outro nos define. Por isso é tão grande o problema com a rejeição, pois o abandono, real ou imaginário, significa uma perda de nós mesmos, visto que o outro muitas vezes nos define.

Queria falar um pouco da minha experiência sobre isso. Desde criança sou gordinha, muitas vezes muito gordinha, as vezes pouco. Tenho uma mãe que é muito ligada ao corpo e estas idéias acabaram por meio que me traumatizar um pouco. Sou colocada em dietas desde que me entendo por gente, desde comer só frutas à contagem de calorias diárias. Não como legumes nem verduras e, hoje em dia, os associo com dietas, pois era a única hora em que eu me via obrigada a comê-los. Sofri muito na minha pré-adolescência e adolescência, pois na escola eu sempre fui o patinho feio. As crianças colocavam apelidos em mim, riam, eu quase não tinha amigos, minhas paixonites eram sempre pelo menino mais lindo da escola, que não me dava a menor bola, obviamente. Sofria muito bullying calada, e cada vez mais acreditava que você precisava ser magra para ser feliz.

Minha mãe não me ajudava muito. Ao me colocar em intermináveis dietas, reforçava o quanto eu era imperfeita aos olhos do mundo. Até hoje, se alguém me chama de bonita, eu não acredito. Lembro de uma vez em que ela me obrigou a comer espinafre, eu querendo vomitar e ela insistindo.

Sempre me liguei aos outros excluídos das turmas, pois neles eu encontrava um pouco de aceitação. Com 15 anos me mudei de Brasília para Recife. Foi então que este bullying diminuiu um pouco, eu me aproximei de duas pessoas que também eram excluídas a seu modo, mas com a ajuda delas acabamos por construir uma estória na escola. Mas mesmo assim, nunca havia beijado ninguém.

Com 17 anos conheci meu primeiro namorado, cuja estória contei neste post aqui e para mim foi um mundo novo. Alguém que me amava, apesar de eu ser gorda! Porém eu sempre tive o medo que ele me trocasse por outra, principalmente mais bonita do que eu. Eu já morava em Curitiba nesta época. Bem, terminamos e minha insegurança aumentou. Porém tive a sorte de conhecer muitas pessoas legais que não se importavam pelo fato de eu estar acima do peso. Conheci outros meninos, beijei muito, namorei... Mas sempre com aquele pensamento que eu era gorda e que em qualquer momento iriam me deixar pelo fato de eu não me encaixar no padrões de beleza "aceitáveis".

Voltei pra Recife, foi tudo difícil pois sentia falta de meus amigos, comecei a ter a idéia fixa de me mudar até que... conheci meu ex-namorado. Ele é uma pessoa extremamente cativante, cabelo longo, toca violão, enfim. Muito político e preocupado com a opinião das pessoas, tanto que toda vez que eu contava a alguém o quanto ele era grosso e insensível, as pessoas se espantavam e diziam: "nossa, eu nunca podia imaginar!!". eu me sentia insegura 90% do tempo, como se qualquer menina com um corpinho mais esbelto pudesse tomá-lo de mim. Não ajudou muito o fato dele ter seus problemas com sexo e ficarmos 1 ano sem relações. Minha auto-estima, já baixa, foi pro chão.

E é assim que ela continua. Como falei acima, o border precisa da opinião das pessoas para definir seu "eu" e, as opiniões que eu tinha eram muito negativas. Meu ex não me elogiava muito, minha mãe... Bem, minha mãe continuou a mesma. Lembro de estar indo ao trabalho e ela me ver com um vestido e dizer algo como: "nossa, se você estivesse 5 quilos mais magra ia ficar tão melhor!" ou "murcha esta barriga!". Estes comentários acabavam com meus dias, pois me sentia feia e gorda.

Na verdade ainda me sinto assim. Mesmo tendo perdido muitos quilos nessa minha depressão, ainda me sinto feia. Tenho certeza que meu ex está com alguém mais bonita e principalmente mais magra do que eu. Olho no espelho e vejo alguém sem atrativos, nada além de belos olhos verdes (a única parte de mim que admiro). Vou para as lojas e me frustro por não terem meu número, me envergonhava em comprar roupas com meus namorados pra eles não saberem o número de minhas calças, ou não presenciarem a minha decepção por ver uma roupa e não poder comprá-la porque esta não cabia em mim.

Sei que devia terminar este longo post com uma mensagem tipo: "então eu aprendi a me amar blablabla" mas não me sinto assim no momento. Ainda me olho no espelho e vejo alguém que fisicamente e psicologicamente não merece ser amada. Ainda não acredito em elogios, nem que eu vá conseguir me ver de forma diferente, pois esta é a minha realidade. Espero que, com a terapia isso mude e que o espelho melhore a imagem que eu sempre vejo...
9 de set. de 2014

O que uma propaganda de limonada pode ensinar sobre os sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline?


Recentemente eu vi uma propaganda e me me pareceu que ela se contradizia: "Limonada de morango para sempre"* era orgulhosamente estampada sob uma figura do produto, com a informação que ela estava disponível "por tempo limitado". O que significa isso? A limonada de morango era para sempre ou por tempo limitado?

Isso é o "pensamento preto e branco". A crença de que há somente duas opções, quando, na realidade, há mais do que só duas, é um sintoma do Transtorno de Personalidade Borderline.

As pessoas diagnosticadas com o TPB frequentemente não conseguem integrar mais do que um lado da situação. Uma semana perfeita de terapia pode ser a tortura na próxima semana, sendo a terapia um processo útil porém difícil.

Por que isso? Uma vez uma enfermeira psiquiátrica/ tenente do Exército me disse: "Com você é ou jejuar ou muita fome". Eu logo dei a resposta que disparou na minha mente: "É isso que tem sido minha vida."

As evidências sugerem que o TPB possa ser um tipo de estresse pós-traumático causado por uma infância com eventos turbulentos. Esse estresse é melhor descrito como segue: "Eu pulei para fora de minha pele e continuei pulando". Enquanto a reintegração de corpo e mente é possível, a disconexão entre eles causa um problema maior para uma pessoa com TPB.

A criadora da terapia dialética comportamental Marsha Linehan contou à revista Time: "Os indivíduos borderline são equivalentes à pacientes com queimaduras de terceiro grau. Eles simplesmente não tem, ao pé da letra, pele emocional. Até mesmo o mais suave movimento pode criar um sofrimento intenso."

Por que as pessoas com TPB tem tamanha dor? Quando uma pessoa com este transtorno "pula para fora de sua pele", o tempo pára emocionalmente. Ela está presa num momento e não mais crescendo ou se desenvolvendo. Nesse ínterim, o tempo continua passando em todos os aspectos da existência, e ela nunca desenvolve a maturidade emocional necessária para responder ao que está acontecendo ao seu redor. Ela não está falhando em usar as habilidades de se lidar com situações, pois estas habilidades nunca foram desenvolvidas. Ela é largada com uma percepção de mundo de uma criança: algo é simplesmente bom ou mal.

Parte da cura começa em aprender a ver todos os lados de uma situação. Por exemplo, ambas afirmações na propaganda da limonada podem estar certas. O nome do produto poderia ser "Limonada de morango para sempre" enquanto o produto estivesse disponível por tempo limitado. Ou a promoção para um produto de duração limitada poderia ser uma referência pobre aos Beatles** (talvez "nothing is real"*** não funcionasse bem no público alvo). Perceber que há múltiplas opções permite a uma pessoa com TPB entender o mundo em volta dela e a responder a ele adequadamente.

* Strawberry lemonade Forever
** Os Beatles tem uma canção chamada "Strawberry Fields Forever" - notem que pode ser um trocadilho.
*** Nothing is real - nada é real. Parte da letra da música "Strawberry Fields Forever"


(tradução livre do artigo "What a Lemonade can teach about BPD symptoms")

6 de set. de 2014

Conheci um border... (depoimento)





Oi Eilan, estava vendo seu blog e resolvi te escrever.

Esse meu e-mail é fictício, prefiro não me identificar e com certeza entendes isso.
Apesar do nome no e-mail eu sou mulher... então vamos à história curta:

Sou das pessoas mais certinhas que existe. Mas gosto de conhecer pessoas. Foi assim que entrei naquele aplicativo Tinder (já ouviu falar?) e conheci um rapaz. 

Nos falamos por três dias e fui conhecê-lo. 

De cara ele me contou muitas histórias que pensei "como alguém pode confiar assim alguém que mal conhece?" Mas ao mesmo tempo fiquei "tranquila" por ele ser tão sincero. Ele conversou muito comigo, inclusive contou que tinha sido preso por ameaçar a ex-namora e descumprir a ordem do juiz de não se aproximar dela.

De cara eu percebi que ele tinha algum distúrbio de comportamento. Ele disse que tinha que me contar uma história ainda... mas no momento a história da prisão já foi demais... não sei porque, ainda assim ficamos (só beijos, nada de sexo).

Apesar de não ter medo das pessoas e acreditar que todas tem um lado bom, eu sou muito desconfiada, então fui pesquisá-lo na internet. Descobri que tudo que ele contou era verdade mesmo e ainda outras coisas. 

Nos encontramos no outro dia e antes que ele falasse qualquer coisa eu disse que tinha pesquisado ele no Google, ele sorriu e terminou de me contar a história. 

E me disse que era Borderline. Contou tudo sobre como descobriu a doença, como foi diagnosticado, as crises, a pior delas, a internação e a prisão e os motivos. Me falou tudo.

Eu fiquei sem reação. Primeiro porque a gente se conhece só há pouco menos de 1 semana. Segundo porque nunca tinha ouvido falar da doença. Terceiro porque fiquei pensando o motivo dele confiar em mim assim de cara e ser tão sincero. 

Ele disse que está fazendo tratamento, que toma os remédios. Que às vezes é meio anti-social porque ele evita situações e pessoas que possam desencadear uma crise. Ele pratica muito esporte como forma de liberar endorfina e liberar também um pouco do comportamento explosivo.

Enfim, só o conheço há uma semana! E agora lendo tudo sobre o TPB não sei o que fazer ou como posso ajudá-lo. Ele disse que entendia se eu não quisesse mais ficar com ele, e que entendia eu estar assustada e que não sabia como, depois de tudo que eu já sabia (pois antes de ir vê-lo pela segunda vez eu ja tinha visto que ele tinha sido internado em uma clínica de recuperação), eu ainda estava alí. Eu perguntei se teria algum problema se voltássemos uma "casa" e fôssemos só amigos. Ele disse que não, que talvez isso fosse o que ele precisava agora e tal. Acabamos nos beijando novamente e eu fui pra casa.

E com tudo isso na cabeça. Coloquei tudo no google pra descobrir mais sobre o TPB. Fiquei assustada com as pessoas falando como se afastam e abandonam as pessoas. Mas vi depoimentos de pessoas com a doença e que estão em tratamento... 

Enfim, o que achas? Como devo continuar com a amizade?

E desculpa por não me identificar.

Att.

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* Ai gente, eu queria ter tempo de responder todos os emails que vocês me mandam. As vezes estou online e chega um, aí respondo na lata. Mas as vezes não dá, muita coisa pra fazer, agora que estou tentando fazer uns posts programados pra o blog não ficar sem nada por tanto tempo.

Na verdade, nem sei se a pessoa que me escreveu já resolveu o problema, porém achei que valia a pena postar isso, pra gente pensar junto: bato sempre na tecla do tratamento, o quanto ele é importante. Só que também não é mágica, tipo, começou a se tratar e já fica 100%. Na minha humilde opinião, eu acho que o cara merecia uma chance sim, se ele está comprometido com o que tem que fazer para melhorar. A gente não é só o borderline. 
Agora, sempre se protegendo. Pode parecer meio feio o que eu disse, todavia sabemos que podemos, sem querer, magoar. Por isso a consciência do nosso transtorno é tão importante, para que possamos prestar atenção nas nossas atitudes e comportamentos disfuncionais. 
Uma amizade/namoro com um border é possível? Claroooo! E digo mais, é maravilhosa, pelo grau de envolvimento que temos. Só não podemos achar que o outro tem que entender todo e qualquer comportamento nosso "por causa do borderline". Não somos escravos do transtorno e nem podemos exigir que ninguém seja, viu?

Acho que me alonguei. O que acham de tudo isso?
1 de set. de 2014

Mais uma garota (mulher) borderline - depoimento e dicas





Querida Eilan, 

Quero te dar parabéns e te agradecer por tua generosidade em compartilhar tanta informação conosco! Comecei a ser diagnosticada como borderline/ limítrofe em dezembro de 2012. O diagnóstico ficou em aberto por bastante tempo, até bem pouco tempo atrás (o que é péssimo pra gente). Também fui classificada como personalidade histriônica e déficit de atenção. Tantos diagnósticos, e todos inconclusivos me deixaram muito mais (!) insegura e ansiosa (como se uma border tivesse ainda chão pra isso...). Enfim. Muito ruim. O lado bom é que, diante da inconclusão dos profissionais que cuidam de mim, comecei a buscar informações e compartilhar o que encontro com minha psicóloga e com o psiquiatra. Eu entendo as razões que os levaram a cogitar vários diagnósticos e as razões que os fazem ter calma antes de fechar o diagnóstico. Mas também entendo que, eu, como paciente, fico ainda mais (!) desesperada, angustiada, auto-estigmatizada, insegura e ansiosa diante das dúvidas deles. Penso que, talvez, os profissionais devessem compartilhar os diagnósticos com os pacientes APENAS quando estão seguros pois isto provavelmente nos traria MENOS sofrimento. Após pesquisar muito, sei que sou mesmo portadora de TPB (ou TPL, limítrofe, como algumas pesquisas dizem). O psiquiatra que começou a me atender agora me explicou que outros sintomas como comportamento sedutor e ansiedade, dificuldade de concentração & hiper-foco, auto-sabotagem e pânico excessivos (relacionados também à personalidade histriônica, transtorno de ansiedade e ao TDAH) podem ter origem em co-morbidades com o TPB, o que faz muito sentido quando olho pra minha história pessoal. Teus vídeos me ajudam muito pois, sempre que vejo, me sinto menos sozinha, me sinto compreendida, me sinto menos "bicho-estranho", menos "louca". Acho que você faz ideia do quanto tudo isto É muito importante para uma border. Aquela sensação curadora de "uau, em algum lugar do universo existe alguém que também vive isso, existe alguém que sabe, que entende o inferno que eu vivo e que é tão difícil explicar. Completei 30 anos este ano. Quanto mais estudo sobre TPB, mais entendo que comecei a desenvolvê-lo (ou, já o tinha, não sei), desde a primeira infância (antes dos 6 anos). As coisas foram ficando mais graves na pré-adolescência, piores da adolescência, e definitivamente catastróficas depois dos 16 anos, com perdas, problemas e prejuízos cada vez maiores e irreversíveis. Apesar de ter começado a fazer terapia aos 18 anos, só nas vésperas de completar 29 é que comecei a receber este diagnóstico. 

Por isso, concordo TOTALMENTE com você quando você alerta os mais jovens e sugere que eles procurem URGENTEMENTE tratamento, psicológico e psiquiátrico. Eles e elas realmente PODEM evitar prejuízos bem sérios se fizerem isso e se, desde cara, contarem pros profissionais que "acham" que tem TPB. Infelizmente, como você lembra, ainda há muito desconhecimento sobre TPB no Brasil, e, às vezes, muita resistência aos diagnósticos - por isso a importância de contar para seu psicólogo(a) ou psiquiatra o que você mesmo identifica, quais sintomas, enfim, o que você sente. 

Sei que, infelizmente, uma boa parte dos jovens ainda não pode pagar os preços caríssimos dos planos de saúde e das consultas com estes profissionais - e eu sou uma destas pessoas. Por isso, quero te dar uma sugestão que já funcionou comigo 3 vezes na minha vida: 

* Divulgar que TODO curso superior de psicologia oferece atendimento GRATUITO. Esteja numa instituição pública ou privada, todo curso! de psicologia, de psicanálise e de terapias complementares precisam oferecer aos seus alunos e alunas o momento do ESTÁGIO. Os cursos de Mestrado e Doutorado nestas áreas TAMBÉM OFERECEM isso. Basta a gente procurar as instituições, pedir informações sobre os atendimentos gratuitos e SEGUIR as orientações (geralmente as instituições fazem uma triagem com as pessoas que se inscrevem, que por sua vez acontece em uma determinada semana ou dia do ano ou do semestre). Os Hospitais Universitários das Universidades Federais também possuem atendimento psiquiátrico - para ser atendido por eles, você precisa passar antes pelo Posto de Saúde e pedir um encaminhamento deles. Além disso, o SUS está disponibilizando PSICÓLOGOS que atendem semanalmente nos postos de saúde e PSIQUIATRAS que atendam os postos de saúde regularmente (3, 2, ou 1 vez por mês). Tudo depende da sua CIDADE, da sua Secretaria de Saúde - há cidades que cumprem com este requisito do SUS, ma! s infelizmente, há cidades que, por culpa de suas prefeituras! , não cumprem ainda isto. Estou em uma cidade que, felizmente, cumpre com os requisitos. E, por fim, ainda há os institutos de saúde (não vou nomear pra não fazer propaganda) nos quais você paga preços para consultas com psiquiatras e psicólogos entre R$50,00 e R$90,00, sem mensalidades, - o que já é beeeeeeeem mais viável do que pagar R$200,00, R$250,00, R$300,00 ou até MAIS do que isso por atendimento. 

Por fim, quero deixar aqui algumas sugestões que encontrei. Talvez você conheça, talvez não. Aí vão:

Filme: "Borderline", de 2008. É um filme canadense bárbaro, da diretora Lyne Charlebois, baseado nos romances auto-biográficos de uma escritora borderline, a Marie-Sissi Labrèche. Para mim, é o melhor retrato cinematrográfico de um paciente border. 
Aí vai o link para o trailer no youtube:www.youtube.com/watch?v=sYJJfriIv90

Documentário: Border_ , dirigiso pela psicóloga Tami Sattler e pela escritora Debbie Corso que também é portadora de TPB. O documentário é bem emocionante e mostra depoimentos de mulheres portadoras de TPB que conseguiram ou estão tentando conseguir voltar a ter uma "vida digna de ser vivida", como você lindamente diz. Seria legal alguém colocar legendas em português! 

Livros: "Criança Interrompida, Adulto Borderline", de Taty Ades e Eduardo dos Santos, é muito bom mesmo!!!! Alguém já menciou ele aqui.

"Borderline" e "La Brèche", de Marie-Sissi Labrèche, também portadora de TPB. Ambos são romances auto-biográficos sobre a trajetória da escritora com o TPB.

"Healing From Borderline Personality Disorder: My Journey Out of Hell Through Dialectical Behavior Therapy", de, Debbie Corso, também portadora do TPB.

Este é o site da Debbie Corso, no qual ela compartilha reflexões e muito do que passou ou passa como portadora do TPB.

Canal: Ades Taty 
Neste canal há pelos 6 vídeos que falam diretamente sobre TPB, e mais vídeos que ajudam a entender as diferenças entre TPB e Transtorno Bipolar, e, entre TPB e Esquizofrenia. Achei o canal por conta do livro. Tem me ajudado a me entender um pouco mais também.

Enfim flor, é isso. 

De minha parte, posso dizer que: saiba que estamos juntas e juntos e que em outras partes do Brasil ao menos, há mais gente sofrendo e buscando curar-se.

Grande Abraço, para Eilan, colaboradores(as) e leitores(as) do Blog!


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* Adoreiii este email! Cheio de dicas. O site da Debbie eu coloquei já nos links e usei como base em alguns posts. Porém sempre válidas as lembranças e sugestões!!

Sua história é mais uma prova que sim, com o tratamento, estudo, força de vontade, podemos ter uma vida que valha a pena ser vivida! É difícil, mas possível!