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1 de set. de 2014

Mais uma garota (mulher) borderline - depoimento e dicas





Querida Eilan, 

Quero te dar parabéns e te agradecer por tua generosidade em compartilhar tanta informação conosco! Comecei a ser diagnosticada como borderline/ limítrofe em dezembro de 2012. O diagnóstico ficou em aberto por bastante tempo, até bem pouco tempo atrás (o que é péssimo pra gente). Também fui classificada como personalidade histriônica e déficit de atenção. Tantos diagnósticos, e todos inconclusivos me deixaram muito mais (!) insegura e ansiosa (como se uma border tivesse ainda chão pra isso...). Enfim. Muito ruim. O lado bom é que, diante da inconclusão dos profissionais que cuidam de mim, comecei a buscar informações e compartilhar o que encontro com minha psicóloga e com o psiquiatra. Eu entendo as razões que os levaram a cogitar vários diagnósticos e as razões que os fazem ter calma antes de fechar o diagnóstico. Mas também entendo que, eu, como paciente, fico ainda mais (!) desesperada, angustiada, auto-estigmatizada, insegura e ansiosa diante das dúvidas deles. Penso que, talvez, os profissionais devessem compartilhar os diagnósticos com os pacientes APENAS quando estão seguros pois isto provavelmente nos traria MENOS sofrimento. Após pesquisar muito, sei que sou mesmo portadora de TPB (ou TPL, limítrofe, como algumas pesquisas dizem). O psiquiatra que começou a me atender agora me explicou que outros sintomas como comportamento sedutor e ansiedade, dificuldade de concentração & hiper-foco, auto-sabotagem e pânico excessivos (relacionados também à personalidade histriônica, transtorno de ansiedade e ao TDAH) podem ter origem em co-morbidades com o TPB, o que faz muito sentido quando olho pra minha história pessoal. Teus vídeos me ajudam muito pois, sempre que vejo, me sinto menos sozinha, me sinto compreendida, me sinto menos "bicho-estranho", menos "louca". Acho que você faz ideia do quanto tudo isto É muito importante para uma border. Aquela sensação curadora de "uau, em algum lugar do universo existe alguém que também vive isso, existe alguém que sabe, que entende o inferno que eu vivo e que é tão difícil explicar. Completei 30 anos este ano. Quanto mais estudo sobre TPB, mais entendo que comecei a desenvolvê-lo (ou, já o tinha, não sei), desde a primeira infância (antes dos 6 anos). As coisas foram ficando mais graves na pré-adolescência, piores da adolescência, e definitivamente catastróficas depois dos 16 anos, com perdas, problemas e prejuízos cada vez maiores e irreversíveis. Apesar de ter começado a fazer terapia aos 18 anos, só nas vésperas de completar 29 é que comecei a receber este diagnóstico. 

Por isso, concordo TOTALMENTE com você quando você alerta os mais jovens e sugere que eles procurem URGENTEMENTE tratamento, psicológico e psiquiátrico. Eles e elas realmente PODEM evitar prejuízos bem sérios se fizerem isso e se, desde cara, contarem pros profissionais que "acham" que tem TPB. Infelizmente, como você lembra, ainda há muito desconhecimento sobre TPB no Brasil, e, às vezes, muita resistência aos diagnósticos - por isso a importância de contar para seu psicólogo(a) ou psiquiatra o que você mesmo identifica, quais sintomas, enfim, o que você sente. 

Sei que, infelizmente, uma boa parte dos jovens ainda não pode pagar os preços caríssimos dos planos de saúde e das consultas com estes profissionais - e eu sou uma destas pessoas. Por isso, quero te dar uma sugestão que já funcionou comigo 3 vezes na minha vida: 

* Divulgar que TODO curso superior de psicologia oferece atendimento GRATUITO. Esteja numa instituição pública ou privada, todo curso! de psicologia, de psicanálise e de terapias complementares precisam oferecer aos seus alunos e alunas o momento do ESTÁGIO. Os cursos de Mestrado e Doutorado nestas áreas TAMBÉM OFERECEM isso. Basta a gente procurar as instituições, pedir informações sobre os atendimentos gratuitos e SEGUIR as orientações (geralmente as instituições fazem uma triagem com as pessoas que se inscrevem, que por sua vez acontece em uma determinada semana ou dia do ano ou do semestre). Os Hospitais Universitários das Universidades Federais também possuem atendimento psiquiátrico - para ser atendido por eles, você precisa passar antes pelo Posto de Saúde e pedir um encaminhamento deles. Além disso, o SUS está disponibilizando PSICÓLOGOS que atendem semanalmente nos postos de saúde e PSIQUIATRAS que atendam os postos de saúde regularmente (3, 2, ou 1 vez por mês). Tudo depende da sua CIDADE, da sua Secretaria de Saúde - há cidades que cumprem com este requisito do SUS, ma! s infelizmente, há cidades que, por culpa de suas prefeituras! , não cumprem ainda isto. Estou em uma cidade que, felizmente, cumpre com os requisitos. E, por fim, ainda há os institutos de saúde (não vou nomear pra não fazer propaganda) nos quais você paga preços para consultas com psiquiatras e psicólogos entre R$50,00 e R$90,00, sem mensalidades, - o que já é beeeeeeeem mais viável do que pagar R$200,00, R$250,00, R$300,00 ou até MAIS do que isso por atendimento. 

Por fim, quero deixar aqui algumas sugestões que encontrei. Talvez você conheça, talvez não. Aí vão:

Filme: "Borderline", de 2008. É um filme canadense bárbaro, da diretora Lyne Charlebois, baseado nos romances auto-biográficos de uma escritora borderline, a Marie-Sissi Labrèche. Para mim, é o melhor retrato cinematrográfico de um paciente border. 
Aí vai o link para o trailer no youtube:www.youtube.com/watch?v=sYJJfriIv90

Documentário: Border_ , dirigiso pela psicóloga Tami Sattler e pela escritora Debbie Corso que também é portadora de TPB. O documentário é bem emocionante e mostra depoimentos de mulheres portadoras de TPB que conseguiram ou estão tentando conseguir voltar a ter uma "vida digna de ser vivida", como você lindamente diz. Seria legal alguém colocar legendas em português! 

Livros: "Criança Interrompida, Adulto Borderline", de Taty Ades e Eduardo dos Santos, é muito bom mesmo!!!! Alguém já menciou ele aqui.

"Borderline" e "La Brèche", de Marie-Sissi Labrèche, também portadora de TPB. Ambos são romances auto-biográficos sobre a trajetória da escritora com o TPB.

"Healing From Borderline Personality Disorder: My Journey Out of Hell Through Dialectical Behavior Therapy", de, Debbie Corso, também portadora do TPB.

Este é o site da Debbie Corso, no qual ela compartilha reflexões e muito do que passou ou passa como portadora do TPB.

Canal: Ades Taty 
Neste canal há pelos 6 vídeos que falam diretamente sobre TPB, e mais vídeos que ajudam a entender as diferenças entre TPB e Transtorno Bipolar, e, entre TPB e Esquizofrenia. Achei o canal por conta do livro. Tem me ajudado a me entender um pouco mais também.

Enfim flor, é isso. 

De minha parte, posso dizer que: saiba que estamos juntas e juntos e que em outras partes do Brasil ao menos, há mais gente sofrendo e buscando curar-se.

Grande Abraço, para Eilan, colaboradores(as) e leitores(as) do Blog!


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* Adoreiii este email! Cheio de dicas. O site da Debbie eu coloquei já nos links e usei como base em alguns posts. Porém sempre válidas as lembranças e sugestões!!

Sua história é mais uma prova que sim, com o tratamento, estudo, força de vontade, podemos ter uma vida que valha a pena ser vivida! É difícil, mas possível!

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