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13 de jul. de 2013

Validação, Invalidação e o Transtorno de Personalidade Borderline




* Texto baseado na Teoria Biosocial, base da Terapia Dialética Comportamental. *

Os indivíduos com o TPB não são somente emocionalmente vulneráveis, mas também cresceram em ambientes onde eles não aprenderam como lidar com suas próprias emoções, chamados de ambientes invalidadores. 

O que é invalidação?

Imagine que você está em um ônibus, alguém pisa no seu pé, você avisa, diz que aquilo doeu, a pessoa responde que sabe disso, mas continua pisando. Esta pessoa sabe que não está dando importância ao fato de que aquilo te machucou. 
Invalidação significa que as emoções da outra pessoa estão sendo rejeitadas, ignoradas ou julgadas.

Ambiente de invalidação: 

Neste tipo de ambiente, as pessoas não ajudam você a lidar com suas emoções. Ao invés disso, eles podem dizer que está errado sentir aquilo ou até mesmo te punir ou te ignorar por ficar emotivo. Isso pode acontecer não só usando palavras, mas certas expressões faciais ou linguagem corporal.

As vezes, até crescer em uma família aonde todo mundo é diferente de você pode ser invalidador. Mesmo que ninguém te diga que há algo de errado contigo, você pode se "sentir errado", como se fosse "a ovelha negra" da família, ou um intruso. É muito doloroso se pensar diferente ou mais sensível do que aqueles ao seu redor, ou que é mais difícil pra você lidar com suas emoções.

Finalmente, também é frequente casos mais extremos, como aqueles onde a criança sofre abuso sexual ou verbal.

Causas e consequências:

De acordo com a teoria biosocial, os borders tiveram várias experiências de invalidações enquanto estavam crescendo. Se você tem o TPB, você deve ter tido a experiência de pessoas te ignorando, ficando bravos, te descartando ou rejeitando quando ficou emocional, então, como resultado, acabou ficando com medo de sentir o que sentia. 
Mas lembre: O TPB é uma combinação de fatores - vulnerabilidade emocional (com uma predisposição biológica para fortes respostas emocionais) + ambiente invalidador

- Muitas pessoas são emocionalmente vulneráveis mas nunca desenvolvem o transtorno
- Muitas pessoas crescem e vivem em ambientes invalidadores, estressantes e abusivos e nunca adquirem o TPB.

É importante notar que nesta teria não podemos culpar nenhum destes fatores. Não há nada de errado em ser emotivo ou sensível, na verdade há muitas vantagens. Algumas vezes, as pessoas muito sentimentais são as mais carismáticas e interessantes. Elas são apaixonadas pela vida, sentem profundamente a dor dos outros e são compreensíveis e sensíveis. 

As pessoas menos sentimentais podem não saber como lidar com aquelas que o são em demasia, principalmente com uma criança mais emotiva, sem que isso seja sua culpa. Há esta relação entre esta criança e o cuidador (pai/mãe/adultos relevantes) menos sensível que ela: a criança mais sensível tem alguma emoção intensa e os cuidadores não sabem lidar com isso. Então eles podem dizer: "pare de agir assim!" - não porque eles querem machucar ou prejudicar a criança, mas pelo fato de que eles não sabem como lidar com isso, não sabem o que fazer ou como ajudar. 

E o que acontece quando alguém te diz para não sentir algo? Você sente muito mais! E é provável que comece a ficar chateado, na defensiva ou fora de controle. Aí fica ainda mais sensível do que estava antes, seus cuidadores não fazem a mínima idéia do que fazer com isso e eles podem começar a se sentir fora de controle também, ficando então irritados.  

Portanto, de acordo com esta teoria, os dois fatores são importantes e um pode amplificar o outro. O tempo vai passando e a medida que isso acontece repetidamente, as pessoas emocionalmente vulneráveis começam a ter dificuldades em gerenciar suas emoções e começam a sentir medo delas, achá-las intoleráveis e passar seu tempo tentando evitá-las. Estas crianças não aprendem como lidar com o que sentem e isso acaba por levar a uma desregulação emocional. De fato, muitos borders dizem que fazem coisas como auto-mutilação e tentativas de suicídio a fim de escapar de suas emoções. Uso de drogas, compulsão alimentar e outros comportamentos destrutivos são usados com o mesmo propósito. As pessoas com TPB fazem isso para se sentirem melhor a curto prazo, mas é claro que esse comportamento cria mais problemas a longo prazo.

Validação:

A validação é um conceito simples de entender, mas difícil de pôr em prática: é o reconhecimento e aceitação da experiência interna da outra pessoa como sendo válida. Validação emocional se distingue de invalidação emocional, em que as suas ou as experiências emocionais de outra pessoa são rejeitados, ignorados ou julgados. Auto-validação é o reconhecimento de sua própria experiência interna.

Validação não significa concordar com ou apoiar sentimentos ou pensamentos. Não quer dizer amor. Você pode validar alguém que você não gosta, mesmo que você não queira.

Validando:

*A criança  

- Ouvir com atenção a criança descrever o seu dia na primeira série.
- Não fazer graça ou dizer que é besteira ao escutá-las contando histórias que são importante para elas, como do primeiro amor.
- Dar atenção e reassegurar seu papel de protetor
- Admirar e elogiar um desenho quando você percebe que a criança se esforçou para aquilo.
- Ensinar sem dizer que a criança está fazendo "tudo errado"

* Um amigo / irmão / parceiro(a)

- Segurar a mão da pessoa quando ela está em um tratamento médico doloroso.
- Ir para a casa de um(a) amigo(a) à meia-noite para se sentar com ele(a) enquanto ela chora por causa de um(a) namorado(a)
- Saber que qualquer um ficaria chateado em uma situação específica é validar. Por exemplo: "Claro que você está ansioso. Falar para uma platéia pela primeira vez é assustador para qualquer um."
- Compreender que uma experiência passada pode estar afetando a reação da pessoa no presente e não julgá-la.
- Estar presente de uma forma onde não há julgamento.

* A si mesmo

- Ser consciente das próprias emoções e não tentar escapar das ruins.
- Tentar entender que algumas de nossas reações são baseadas em experiências passadas e não porque "não conseguimos reagir direito."
- Entender que "culpa" por um ato é diferente de "assumir a responsabilidade"
- Não se julgar quando cometer um erro, entender que todos somos humanos.
- Se cuidar, se mostrar apresentável e bonito de uma forma não de se submeter ao que a sociedade impõe, mas sim de aumentar o próprio bem-estar.
- Se aceitar como é mas não ficar complacente com os próprios erros.


* Fontes:
- The Borderline Personality Disorder Survival Guide: Everything you need to know about living with BPD - Alexander L. Chapman, PH.D ; Kim L. Gratz, PH.D (livro)






Um comentário:

  1. Eilan, até mostrei esse artigo para o meu marido. Já te falei antes que meu filho foi diagnosticado há alguns anos com ansiedade de separação. Eu vejo ele muito emotivo, como se tudo fosse um pouco mais intenso para ele. Em agosto ele vai voltar a fazer terapia. Foi muito bom ler seu artigo, não sabia nada de validação. Ás vezes sem querer a gente faz tudo errado, mesmo tentando acertar...
    Vou repetir que adoro seus posts, são muito esclarecedores. Um grande bj

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