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13 de fev. de 2017
Sobre a "estabilidade".
Postado por
Nathalia Musa
Então você segue o tratamento, melhora. Consegue trabalhar, consegue se relacionar. Você entende o que tem, consegue (pelo menos algumas vezes) lidar com isso e... Aí você pára de ser borderline!
Como assim? Não, não existe uma "cura". Existe a remissão dos sintomas. Você continua sentindo tudo a sua volta com uma intensidade monstra. A vontade de se cortar vem de vez em quando. As lágrimas também, e o desânimo, e a vontade de largar tudo e voltar pra cama, e ficar na cama. As vezes você até volta pra cama, mas se culpa o resto da semana (ou da vida). Você tem (mais) obrigações que as vezes não consegue cumprir, se planeja no dia anterior pra no outro dia não fazer nada porque estava dormindo. Só que tudo isso acontece e como você não está mais largada numa cama com uma lâmina na mão e um copo de vodka na outra, a parte do borderline é esquecida. Você vira novamente a dramática, irresponsável, impulsiva, difícil, louca...
Você deve estar pensando: "ok, e qual a vantagem nisso então?"
Tenho que dizer que é até mais difícil que estar em crise. É mais difícil estar de pé, se controlar, respirar, tentar agir assertivamente, tentar tirar o óculos que te faz ver tudo tão intensamente e ponderar. Pensar que amanhã as coisas não serão como hoje. Tentar fazer aqueles a sua volta entenderem que você pode estar tendo uma vida dita "normal" (conte aí marido+enteada no meu caso) e mesmo assim agir de forma "estranha" de vez em quando. Que você não fica com raiva por horas, você fica por dias. Que você estressada é um furacão e isso pode passar em questão de minutos ou meses... Aprendi nesses meus dias de "normalidade" que o estável não é tão linear assim. E que a gente fica pensando que quando alcançar a tão falada remissão dos sintomas, tudo será lindo e belo e perfeito.
Não, não é. Mas quer saber? É a remissão que me faz ver que vale a pena. Que, por mais que as vezes eu queira me colocar naquele meu papel seguro de "não é minha culpa, então me aguentem!" e fazer toda sorte de cagadas, minha vida de hoje vale ser vivida. Meu sofrimento vale a pena, porque eu consigo enxergar a beleza das partes boas. Eu não parei de ter problemas de auto-estima, não parei de ser insegura, mas eu consigo arranjar forças pra continuar em mim mesma e naqueles que eu amo que estão à minha volta. Orgulho-me de não me cortar há mais de um ano e meio. De estar num emprego onde pessoas confiam em mim. De ter uma família linda, meus gatos. Antes, nada disso era motivo pra me fazer sair da cama, nem eu mesma era motivo pra sair da cama e ver o dia.
Então não queira a perfeição. Ela não existe.
Queira uma vida que valha a pena ser vivida. Queira ser feliz sabendo que o "ser" pode virar "estar" ou "não estar". Aproveite o momento com os pés no chão de quem sabe que a luz no fim do túnel existe sim, ela só não brilha do jeito que a gente imagina.
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