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29 de mar. de 2013

O que uma propaganda de limonada pode ensinar sobre o Transtorno de Personalidade Borderline.




Recentemente eu vi uma propaganda e me me pareceu que ela se contradizia: "Limonada de morango para sempre"* era orgulhosamente estampada sob uma figura do produto, com a informação que ela estava disponível "por tempo limitado". O que significa isso? A limonada de morango era para sempre ou por tempo limitado?

Isso é o "pensamento preto e branco". A crença de que há somente duas opções, quando, na realidade, há mais do que só duas, é um sintoma do Transtorno de Personalidade Borderline.

As pessoas diagnosticadas com o TPB frequentemente não conseguem integrar mais do que um lado da situação. Uma semana perfeita de terapia pode ser a tortura na próxima semana, sendo a terapia um processo útil porém difícil.

Por que isso? Uma vez uma enfermeira psiquiátrica/ tenente do Exército me disse: "Com você é ou jejuar ou muita fome". Eu logo dei a resposta que disparou na minha mente: "É isso que tem sido minha vida."

As evidências sugerem que o TPB possa ser um tipo de estresse pós-traumático causado por uma infância com eventos turbulentos. Esse estresse é melhor descrito como segue: "Eu pulei para fora de minha pele e continuei pulando". Enquanto a reintegração de corpo e mente é possível, a disconexão entre eles causa um problema maior para uma pessoa com TPB.

A criadora da terapia dialética comportamental Marsha Linehan contou à revista Time: "Os indivíduos borderline são equivalentes à pacientes com queimaduras de terceiro grau. Eles simplesmente não tem, ao pé da letra, pele emocional. Até mesmo o mais suave movimento pode criar um sofrimento intenso."

Por que as pessoas com TPB tem tamanha dor? Quando uma pessoa com este transtorno "pula para fora de sua pele", o tempo pára emocionalmente. Ela está presa num momento e não mais crescendo ou se desenvolvendo. Nesse ínterim, o tempo continua passando em todos os aspectos da existência, e ela nunca desenvolve a maturidade emocional necessária para responder ao que está acontecendo ao seu redor. Ela não está falhando em usar as habilidades de se lidar com situações, pois estas habilidades nunca foram desenvolvidas. Ela é largada com uma percepção de mundo de uma criança: algo é simplesmente bom ou mal.

Parte da cura começa em aprender a ver todos os lados de uma situação. Por exemplo, ambas afirmações na propaganda da limonada podem estar certas. O nome do produto poderia ser "Limonada de morango para sempre" enquanto o produto estivesse disponível por tempo limitado. Ou a promoção para um produto de duração limitada poderia ser uma referência pobre aos Beatles** (talvez "nothing is real"*** não funcionasse bem no público alvo). Perceber que há múltiplas opções permite a uma pessoa com TPB entender o mundo em volta dela e a responder a ele adequadamente.

* Strawberry lemonade Forever
** Os Beatles tem uma canção chamada "Strawberry Fields Forever" - notem que pode ser um trocadilho.
*** Nothing is real - nada é real. Parte da letra da música "Strawberry Fields Forever"


(tradução livre do artigo "What a Lemonade can teach about BPD symptoms")


PS: Depois do texto profundo de ontem, resolvi ser um pouco mais leve. Ah sim, a Tadlla, linda, escreveu um texto e me dedicou lá no blog dela. Me fez chorar, pois remete bem ao que sinto. Fica o convite para colaborar aqui, se você quiser.

Ah. Notem que a foto ao lado da coluna de posts as vezes muda. Resolvi colocar coisas que estão sendo importantes na minha vida, ou marcantes. A primeira era uma de minhas gatas, Eilan.

Outra coisa, tô pensando em fazer um canal de vídeos. O que acham?

Pra terminar, a música dos Beatles (amo) citada no texto, que para mim pode ser entendida como música borderline também...




Campos de morango pra sempre

deixe eu te levar
Pois estou indo aos
Campos de morango
Nada é real
E não há nada para se apegar
Campos de morango pra sempre

é fácil viver com os olhos fechados
Sem entender o que se vê
está ficando difícil ser alguém
mas tudo parece funcionar bem
não é muito importante pra mim

Deixe-me te botar pra baixo
Pois estou indo aos
Campos de morango
Nada é real
não há por que esperar
Campos de morango pra sempre

Acho que não tem ninguém na minha árvore
Quero dizer, dever estar alto ou baixo
Ou seja, você sabe que não pode entoar
mas tá tudo certo
Assim, penso que não é tão ruim

Deixe-me te botar pra baixo
Pois estou indo aos
Campos de morango
Nada é real
não há por que esperar
Campos de morango pra sempre

Sempre sabe que às vezes sou eu
Mas sabe, eu sei quando é um sonho
Acho que um Não valerá um Sim
mas tá tudo errado
Por isso eu acho que discordo

Deixe-me te botar pra baixo
Pois estou indo aos
Campos de morango
Nada é real
E não há por que esperar
Campos de morango pra sempre
Campos de morango pra sempre
Campos de morango pra sempre

3 comentários:

  1. Olá!Naty
    abrir um canal na Youtube é uma boa. Eu estou com o meu aberto,o canal!
    Interessante seu relato de hoje. Mais didático para aqueles , meu caso, que não conhecem profundamente o TPB.
    Gostei dessa música do Betles.
    ah sim, quando eu demorar para vir, pode me chamar...sempre!
    Meu carinho
    Bom dia
    Beijos

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  2. "Com você é ou jejuar ou muita fome" Essa frase me define, literalmente.
    Adorei seu blog e esse post. Confesso que ri da propaganda porque é completamente contraditória rs
    Beijos!
    acidia28.blogspot.com.br/

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  3. oi amiga, hj aprendi um pouco mais sobre vc. temos alguma coisa em comum, mas a bipolaridade por outro lado apresenta na fase de hipomania uma autoconfiança absurda, a pessoa se "acha" e pelo que vejo aqui o teu problema é auto estima. mas acho que você está bem porque está conseguindo traduzir coerentemente teus sentimentos, assim vc se ajuda, ajuda outros com o transtorno e ainda ajuda a desmistificar a doença e diminuir o preconceito. bjs

    http://eubipolarbuscandoapaz.blogspot.com.br/

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