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16 de jul. de 2013

Quando e porque se internar



A clínica psiquiátrica se constitui como um universo a parte. Quando você é internado é como se alguém tivesse apertado o pause na sua vida e te jogado para outra dimensão. Falando assim até parece ser uma boa ideia para quem está querendo fugir do mundo por exemplo, mas como tudo na vida, ser internado em uma clínica tem seus prós e contras.

Vamos ao lado bom. Por que uma pessoa é internada? Essa é fácil. Porque ela se tornou um perigo para si mesma ou para a sociedade. Esse é o único motivo justificável para prender uma pessoa entre quatro paredes. A internação protege o indivíduo dele mesmo e, caso ele seja agressivo, protege o mundo contra essa pessoa. O universo da clínica gira ao redor do paciente e todos os profissionais estão lá para recuperá-lo e tornar a vida do mesmo melhor. É um lugar onde você está supostamente seguro e deveria se sentir assim. Lá a única coisa que importa é a sua doença e como você vai aprender a lidar com ela para ser reinserido na sociedade.

Pois bem. Por que, então, tanta gente é contra a internação? Isso já é um pouco mais complicado. O universo da internação não é o universo real, é algo construído para proteger pessoas problemáticas. A função da clínica é recuperar o doente para que ele volte a ter uma vida normal, ou tão normal quanto seja possível. O problema é que algumas pessoas acabam se viciando nesse ambiente. Elas começam a negar o mundo real e passam a buscar a doença como desculpa para se manterem internadas. Não é muito difícil entender porque elas fazem isso. Viver dentro de uma clínica psiquiátrica significa não ter liberdade, mas também significa não ter responsabilidades, não precisar lidar com os problemas do dia-a-dia fora dali e significa nunca se ver sozinho e sem apoio. É um pouco assustador ver que muita gente prefere renunciar sua liberdade ao invés de enfrentar seus problemas, mas acontece bastante. Outro lado negativo em uma internação é a convivência, ou seja, o fato de ter um bando de louco vivendo trancado no mesmo lugar. Não é raro observarmos o efeito bola de neve ali dentro. Uma pessoa surta e acaba levando a clínica inteira junto. É preciso tomar cuidado para ao invés de sair melhor, não sair com mais problemas ainda.

Tudo isso sem contar os detalhes de como é o dia-a-dia trancado em um lugar como este. Estar internado significa ter horário para tudo, liberdade para nada e privacidade como artigo de luxo. Significa ser vigiado 24 horas por dia, 7 dias por semana. Significa estar longe das pessoas que te amam e ter como único meio de comunicação com o mundo lá fora um telefone público que mal funciona. Estar internado significa ser amarrado em uma cama e ser dopado quando a única coisa que você queria era um abraço, significa passar dias e noites ouvindo os gritos das pessoas que estão piores do que você. Significa perceber que eles te tiraram tudo... Absolutamente tudo, porque você não tinha mais capacidade de fazer suas próprias escolhas. Ser internado é como voltar ao útero da sua mãe depois de experimentar a maravilhosa liberdade do mundo lá fora. No começo pode parecer quente e seguro, mas com o tempo você percebe que aquilo não passa de uma prisão sufocante.

Eu não sou contra a internação, tanto que já fui internada duas vezes, mas acredito que seja uma ferramenta para casos bem específicos e extremos. Ser internado não é como tirar férias, está há anos luz de distância disso. Não se engane e nunca se acomode.



[ Primeiro texto meu no blog. Muito prazer, me chamo Sah.

Meu blog pessoal -> yoyo-sah.blogspot.com ]

8 comentários:

  1. Indentifico-me e muito com essa tua partilha, já vive momnetos assim,sofri na pele e sei exactamente como são os dias.

    Mas concordo consigo as vezes é urgente uma intervenção pois nem sempre conseguimos vencer sozinhos momentos turbulentos assim.

    Importante por demais os pormenores da tua redacção.

    Minhas congratulações pela objectividade e pela sensibilidade.

    Um abraço,tenha uma boa quarta-feira

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  2. O isolamento causa problemas psicológicos enormes, pergunto Elain, "Você isola-se, não procura o convívio?" certamente que o convívio diário com os amigos ajuda a melhorar.

    Abraço

    ag

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  3. Muito obrigada pelo excelente relato. Também sofro de TPB. Ontem, a psiquiatra e a terapeuta descobriram uma nova tentativa de suicídio minha, que foi "dedurada" pela minha irmã, que encontrou evidências do que eu tinha feito. Logo, a psiquiatra está por um fio para me internar e eu fiquei curiosa para saber se o ambiente era como um campo de concentração, rs. E concordo com a parte de que o afeto seria provavelmente mais eficaz do que a tonelada de remédios que já tomo aqui e que, se for internada, tomarei na clínica...mas para mim, assim como para outros pacientes de TPB, existe a relutância em confiar nas pessoas e em crer que é possível ser amado...como aceitar algum tipo de afeto? Como crer que afeto realmente existe, ou se não é só pena ou interesse?
    Enfim, agradeço-lhe novamente por compartilhar informações de tamanha importância.
    Abraço e ótima terça-feira.

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  4. Olá!
    Gostaria do seu e-mail para conversar com vc.
    Obrigada.
    Bj

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  5. Olá.
    Gostaria do seu e mail para trocarmos uma idéia.
    Obrigada

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  6. Por favor alguém sabe uma clínica especializada para boderllines?
    O caso da minha mãe é extremo e eu já não sei mais como ajudá-la ..
    Ela foi parar em Minas Gerais e se dopou de remédio agora está intoxicada , preciso tratá-la urgente ! Conto com as respostas de vcs ..

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  7. Olá..Não sei se sou borderline..Mas, me encaixo em todos os sintomas da doença...Terminei um relacionamento há dois meses..De lá para cá tentei me matar diversas vezes, ingerindo uma grande quantidade de tranquilizantes e controladores da pressão...Não sei como não morri..Hoje, meus pais descobriram tudo (moro com eles)...encontraram as cartelas vazias...choraram e me perguntaram por quê eu agi dessa forma....respondi "porque, de algum jeito, eu queria, aos poucos me aniquilar por dentro a ponto de não sobrar mais nada de mim"...Meu pai chorou...Minha mãe quer me internar...E eu quero ir...Mas, tenho medo de ser mais uma fuga..uma tentativa de escapar da realidade...Eu não queria ter ossos de vidro...

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