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11 de ago. de 2013

Transtorno da Personalidade: Teoria do Apego




(post da minha colaboradora Perséfone)

Simone Hoermann, Ph.D., Corinne E. Zupanick, Psy.D. & Mark Dombeck, Ph.D.

Outra forma influente de pensar sobre transtornos de personalidade decorre da teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby e Mary Ainsworth. Ela propõe que as pessoas desenvolvem representações internas de relacionamentos através de suas interações com os primeiros cuidadores. Essas representações internas, ou modelos de relações, em seguida, virão a influenciar:

1) desenvolvimento da personalidade
2) tendências de interação social,
3) as expectativas do mundo e de outras pessoas
4) estratégias para regular emoções.

A teoria separa estes modelos de trabalho de relações em duas categorias principais, uma fixação segura e fixação insegura, de acordo com o grau de segurança e proteção presente nas relações representadas pelos modelos. A categoria de apego inseguro é subdividida em função de como as crianças reagem aos outros: ambivalente, esquiva, ou desorganizada. Características desses estilos de apego inseguro são comportamentos que buscam proximidade excessivamente grudenta, comportamentos onde se rejeita o cuidador e, por fim, algumas crianças  desenvolvem um estilo de apego desorganizado, que se caracteriza pela alternância de ida e volta entre o comportamento pegajoso e o de rejeição.

A teoria do apego propõe que as primeiras relações das crianças com os cuidadores devem, idealmente, dar origem a um apego seguro, formada pelo fornecimento de uma base segura a partir da qual as crianças podem explorar de forma segura o mundo. Cuidadores de confiança tornam-se uma espécie de "base" ou porto seguro a partir do qual as crianças podem se aventurar com segurança em seu ambiente circundante, e então elas podem retornar à sua "base", sempre que precisarem de algum conforto. Quando as crianças estão chateadas, elas são biologicamente programadas para buscar a proteção e conforto de cuidadores. Cuidadores que atendem às necessidades das crianças para proteção e conforto fornecem respostas suaves, eficazes e adequadas. Quando os cuidadores modelam essas respostas, isso permite que as crianças aprendam a se acalmar e suavizarem-se. Experiências positivas de segurança e conforto das crianças  fazem a formação de representações mentais de si e dos outros, caracterizadas por um senso básico de auto-estima e da confiança em outras pessoas (ou seja, o apego seguro). Ao longo do tempo, através de um comportamento consistente dos cuidadores de confiança, as crianças aprendem a regular o seu próprio afeto, e internalizar dentro de si uma estratégia suave de enfrentamento dos problemas, que acontecia anteriormente no espaço entre o cuidador e a criança.

Em contraste, quando os cuidadores rejeitam, são frios e/ou inconsistentes, em resposta às necessidades das crianças (em vez de serem sempre acolhedores e reconfortantes), as crianças não veem os cuidadores como pilares calmos e seguros, e, posteriormente, desenvolvem representações mentais de relacionamentos como inseguros. Pouca ou nenhuma modelagem do comportamento calmante é oferecida dentro desses apegos inseguros, ou a que é oferecida não pode ser confiável, porque é inconsistente, assim, as crianças não aprendem efetivamente a regularem suas próprias emoções ou a acalmarem-se.

Maus tratos prematuros, que culminam na formação de um estilo de apego inseguro, podem fazer as crianças a ficarem confusas em sua abordagem para as relações com os cuidadores e outras figuras de autoridade, embora passem a antecipar o abuso e, portanto, estão motivadas a serem cautelosas ou esquivas, elas precisam simultaneamente de apoio e proteção de tais figuras que motivam sua abordagem. Tal mistura incompatível de motivações interpessoais podem ser responsáveis ​​por alguns dos comportamentos conflitantes e de instabilidade interpessoal freqüentemente encontrados em pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline . Apesar de um estilo de apego inseguro e as respectivas representações internas distorcidas de si mesmos e dos outros não constituírem doenças, quando combinado com outros fatores de risco biológicos e ambientais, tais como o abuso, eles podem contribuir para o desenvolvimento de um transtorno de personalidade.

(tradução livre e edição deste artigo)


* Eu não sofri abusos físicos, acredito que meus pais não tem culpa no que aconteceu à minha família. Meus pais se casaram por amor e continuam casados até hoje, quase 32 anos. O nosso problema foi que meu irmão mais velho é doente. Ele é autista em um alto grau. Não tem asperger, ou seja, ele não é esperto em nada. Não sabe ler e vive em uma realidade alternativa em profunda regressão. Foi descoberta a doença dele quando eu nasci. Ele parou de falar e andar. Minha mãe passou dois anos até conseguir o diagnóstico de autismo. Então eu já tinha dois anos e meu irmão quatro. Apesar dos meus pais nunca terem se separado logo houve a separação de responsabilidades, minha mãe cuidava do meu irmão e meu pai de mim. Não por que eles assim quisessem, mas meu irmão nunca aceitou ninguém além de mainha. Eu não entendia o que havia com a minha família, mas sentia falta de coisas necessárias à formação de qualquer criança; hora para dormir, alguém checando minha tarefa de casa –ou mesmo me mandando fazer-, alguém vendo meu boletim, etc. Tentei chamar a atenção sendo a melhor aluna, não deu certo até eu passar a agir como adulta com dez anos. Eu conversava sobre a guerra do Golfo, colecionava artigos de economia e falava sobre marxismo. Virei a melhor amiga do meu pai. Nunca fui a festas, eu gostava de jazz, como meu pai. Os gostos dele eram os meus gostos, e se eu o decepcionava eu tinha que enfrentar discussões de como eu não estava pensando certo, eu era uma adulta aos dez anos. Hoje, aos 30, sou uma adolescente. Por quê?

Se você leu o artigo que traduzi acima, você vai ver que eu não tive pais acolhedores e calmantes, eu nunca estive segura com quem deveria cuidar de mim. Eu não tive limites. Crianças devem ser egoístas, e não seres preocupados, com que roupa o pai irá vestir. Eu queria limites, eu me impus limites. Hoje não tenho nenhuma noção de realidade ou limites, não entendo o dinheiro e não suporto ser rejeitada. Minha mãe nunca quis me rejeitar, a doença do meu irmão foi um fator com o qual eles não contavam e não poderiam antecipar. O abuso que sofri foi de um tipo subestimado tido como de segunda o abuso psicológico. Não foi maldade, mas muitas vezes mesmo com boas intenções, fazemos coisas ruins.

Hoje vario entre colar em alguém e rejeitar totalmente. Mas após muitos anos de terapia sei como funcionam os gatilhos – coisas que me fazem ter crises-.

Em futuros posts pretendo falar sobre o que são, os gatilhos e quais dispositivos internos eu uso para me acalmar.

Um comentário:

  1. Engraçado, passo pela mesma coisa.
    Meu irmão mais velho é deficiente físico e minha mãe sempre teve que se dedicar muito a cuidar dele. Tendo um pai ausente meio que me criei sozinha, sempre tentando chamar atenção de mamãe mas sem poder ter atenção como uma criança normal.

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