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21 de set. de 2014

Não me deixe! O transtorno de personalidade Borderline e o abandono. (2)


(POST DE MARÇO/ABRIL DE 2013)

Como eu disse no post anterior, eu tenho muito a falar sobre este tema de abandono. quando eu li que este era um dos sintomas do transtorno, muita coisa fez sentido pra mim, pois estar sozinha foi sempre meu maior medo.

Fiz coisas que na época eu não entendia, ou não pensava muito no assunto, achando que era minha reação, ou as vezes me culpando por minhas atitudes, por não ter a força necessária para lutar contra aquilo.
Eu tive mais problemas com isso durante meu primeiro relacionamento e este último. quando me mudei para Curitiba para ficar com meu ex-noivo, aguentei toda sorte de coisas para não deixá-lo. Ele, por exemplo, estava envolvido com outra menina que ele conheceu na internet e eu sabia. Toda noite, depois que eu me deitava no quarto dele, ele ia para o computador para falar com ela, e eu escutava tudo. Quando brigávamos, eu perdia totalmente o controle. Partia pra cima dele, esmurrava, batia e dizia que ia me jogar pela janela, enquanto ele me segurava. Eu digo que se ele não me segurasse eu me jogaria mesmo, na adrenalina da discussão. Depois comecei a fazer chantagem, após minha tentativa de suicídio, dizendo que se ele terminasse comigo eu me mataria. Isso segurou ele por um tempo, mas para mim era a morte, pois eu me sentia pior sabendo que ele estava comigo porque eu havia dito que ia me suicidar. Pouco tempo depois retirei a chantagem e continuamos juntos mesmo assim, mas terminaríamos pouco tempo depois, também porque ele havia arranjado outra pessoa. Lembro-me que ele estava trabalhando em Campinas e quando me disse ao telefone que iríamos terminar, peguei um ônibus no outro dia e fui bater no hotel dele. Tivemos uma discussão grande dentro do seu carro, e foi a primeira vez que ele devolveu os tapas que eu lhe dava (não, não o culpo, ele nem bateu forte e eu merecia depois de tantos que eu havia dado nele.). A coisa ficou tão evidente que um carro de polícia nos parou perguntando se havia algo errado. Acabou que não importou o quanto eu chantageasse, lutasse, me humilhasse... Ele terminou comigo.
Com meu ex a situação não era muito diferente, era até pior. Tenho que explicar que desde o início nosso relacionamento foi conturbado, estávamos ficando por 10 meses antes dele finalmente oficializar o namoro, e como mesmo assim vivíamos juntos todos os dias, isso bagunçava com minha cabeça e me deixava insegura. todos os dias eu pensava que ele podia encontrar uma garota melhor que eu e me largar. Mesmo quando oficializamos eu ainda tinha isso na cabeça. Ao contrário do meu ex-noivo, meu ex-namorado não tinha a menor paciência, tato e consideração. Durante a maioria das brigas ele me dizia coisas horríveis, que não me aguentava, que estava melhor solteiro, que eu era uma "crazy bitch" e eu, o que fazia? Me descontrolava, ao invés de ir embora. Empurrava ele, quebrava coisas, tinha crises de choro que muitas vezes terminavam em desmaios. Ele também tinha o péssimo hábito de querer ir embora durante qualquer discussão, ou se eu estava na casa dele, ele me expulsava de lá. Quando isso acontecia, para mim era a morte. Na minha cabeça, ele não voltaria mais, me ligaria no outro dia dizendo que tudo estava acabado. Então eu me ajoelhava, segurava a chave o meu apartamento, a mochila dele, tomava o celular de sua mão enquanto ele chamava o taxi, ia atrás quando o táxi chegava e me jogava dentro dizendo que iria com ele, isso entre escândalos em que os porteiros eram as testemunhas, ou qualquer outro que estivesse passando.

Como ele era muito grosso durante as brigas, não passava pela minha cabeça que ele voltaria. Para mim, alguém que falava as coisas que ele me falava não podia nutrir sentimentos por mim. Quando ele ia embora durante as brigas eu ligava milhões de vezes, mandava mensagens dizendo que ele não me amava, isso sem contar que eu ficava tão mal que no outro dia muitas vezes não iria trabalhar.
Todos me perguntavam do porquê de eu estar com ele, devido a todas as brigas e muitas vezes grosserias comigo na frente de outras pessoas. eu respondia: "não tenho forças de deixá-lo". Hoje eu entendo que eu sabia já o que se passava, sabia que eu não era forte, mas eu achava que eu era simplesmente fraca.

Hoje, olhando pra trás, penso em como tudo teria sido diferente se eu tivesse entrado na terapia mais cedo, ou se tivesse começado a me tratar mais cedo. Pois o estopim de minha crise foi exatamente quando terminamos, em nossa derradeira discussão, os dois bêbados, eu saí da casa dele, entrei no mar de roupa e tudo desesperada, depois voltei e ele me expulsou aos gritos na frente de toda sua família. O motivo da discussão? Facebook. Uma coisa banal que explodiu em mágoa e raiva.
Quero deixar claro que não era de todo ruim, ele tinha suas fases boas, e é nisso que eu me agarro hoje em dia quando sofro de saudade. eu sei que deveria entender que no fundo estou melhor sem ele, que é uma pessoa que muitas vezes me desrespeitava, esmagava minha auto-estima e me deixava mal. Mas não consigo. Tudo que me lembro são os bons momentos e, como disse a minha psicóloga, "ruim com ele, pior sem". Não vou mentir que se hoje ele me ligasse e me quisesse de volta eu iria, sem pestanejar. Não sei explicar porque, só que me sinto muito sozinha e tenho pavor disso. é como o mundo funciona pra mim, estar sem ninguém dói demais, ainda mais com meus amigos também afastados.
Eu sei que ele não vai me ligar. Na verdade ele deve estar muito feliz sem mim, como algumas vezes fez questão de deixar claro, apesar de tudo que fiz por ele. Enquanto me apego nas coisas boas ele se apega nas ruins pra me categorizar como louca. Então me pego pensando se algum dia conseguirei alguém que me ame do jeito que sou. Não me orgulho das coisas ruins que fiz e se pudesse faria diferente. Mas não posso. Eram as cores do meu mundo e, sem elas, ficou tudo cinza. Não sei se tenho esperança em encontrar uma pessoa em que possa confiar. Ou uma pessoa que me queira de verdade. Tudo que eu acreditava que era fraqueza é simplesmente meu cérebro funcionando neste ritmo, então não deveria me culpar. Porém me culpo. E sei que é muito difícil encontrar alguém que não o faça.
PS: Receita de hoje: A stiff drink and a sharp blade.

(POST DE ABRIL/2013)

9 comentários:

  1. Sei q é muito difícil ser um border! Muito complicado

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  2. Oi, flor. Meu nome é Camila, sou médica e borderline. Tenho 33 anos, e tive o diagnóstico após o término de um namoro não muito saudável, há 4 anos atrás, apesar de já sofrer com o problema há, no mínimo, uns 15 anos. Tinha o mesmo pensamento que vc. Que nunca ninguém iria me aceitar do jeito que eu sou. E um medo enorme de ficar sozinha. Mas aí tomei uma decisão: não iria mais aceitar ser humilhada como fui pelo meu ex-namorado. Preferi ficar sozinha. Não conseguia mais confiar nos homens e tinha medo de sofrer tanto de novo. E quer saber? Foi ótimo. Fazia apenas as coisas que me agradavam. Só saía com pessoas que me levantavam o astral. E me tratei, claro. Há 1 ano e meio, fui apresentada por uma amiga da minha irmã (que nem me conhecia) a um amigo dela pelo facebook. Era sexta à noite, estava de pós-plantão, no sofá, assistindo Globo repórter quando ele me adicionou. Conversamos pela internet, depois telefone, e finalmente dei uma chance depois dele insistir muito e saímos. Desde esta dia estamos juntos, agora noivos, de casamento marcado. No começo não contei do meu problema. Morro de vergonha e de culpa. Ele só soube uns meses depois, pois via que eu tomava muitos remédios (falava que era vitamina). E decidiu ficar comigo. É a pessoa mais compreensiva e carinhosa que conheço. Me apoia em tudo e já foi comigo em consultas no psiquiatra para saber melhor sobre a doença. Leu o livro "I hate you, don't leave me". Assistimos garota interrompida juntos. Ainda tomo muitas medicações, não posso parar a terapia, mas sei que agora não estou mais sozinha. Valeu a pena me conhecer melhor e me dar mais valor. Hoje me aceito muito mais. Sei que ainda tenho muito chão pela frente. E ele sempre diz: "Tenho certeza de que vai se curar e parar de tomar os remédios, é só uma questão de tempo." Isso pra mim é tão importante, pois ele acredita em mim quando nem eu mesma acredito. Estou contando pra que todos vcs tenham esperança. Aconteceu comigo, vai acontecer com vcs também. É só não ficar parado esperando a felicidade bater na porta. Vivam suas vidas e se tratem. Não aceitem humilhações, traições, nada do que não for saudável. Existem ainda muitas pessoas boas por aí. Deixa esse ex-namorado pra lá. Não deixe de acreditar. Confie. Sou católica e participar de um grupo de oração me ajudou muito, além de praticar exercícios ao ar livre. Procure algo que lhe dê prazer. Adorei o seu blog! Muito bom saber que não sou uma total incompreendida. Beijos e boa sorte!

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    1. Camila, muito postiça sua contribuição pra mim. Fico feliz que hoje vc posso dar essa lição de felicidade, que bom que encontrou alguém tão bom. Tô em um momento que acredito não encontrar essa pessoa, de me sentir um lixo humano, de não sentir satisfação em nada, nem no meu emprego. É como se voltássemos todas nossas forças pra uma pessoa, e infelizmente essas minha pessoa tá mais parecida com a do texto aí de cima, que com a sua que me pareceu ser um bom rapaz.
      Obg pela contribuição

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    2. Nossa...inspiradora sua história....

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  3. Tadinha de você :( sei como é ruim pois também sou border e já tive uma experiencia um pouco parecida.. tentei suicidio também mas não deu muito certo, abandono e uma das piores coisas meu maior medo [2]
    Melhoras e forças pra você <3

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  4. Já passei pela mesma situação, tentei suicidio, fiquei solteira, hoje estamos juntos novamente, noivos e morando juntos, há alguns dias descobri que tenho border, depois que assisti O encontro com a Fatima. Ainda não contei pro Meu Noivo pois ele está em uma viagem, sinto que ele nunca vai voltar, estamos colocando o apartamento a Venda para nos mudarmos, as vezes penso que vai me abandonar depois que pegar as coisas no aprto, ele disse antes de viajar que me ama muito q sou a mulher da Vida dele e que nao vai me abandonar. Sofro muito com a ausencia dele e choro muito com o fato dele estar longe de mim. Mesmo quando ele vai pra Fazenda que é apenas duas horas de Casa.

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  5. Nossa.. impressionante como a cada poste seu eu me identifico mais.. passei/passo pelas mesmas situações, o sentimento de abandono, de ser maltratada e mesmo assim ainda se agarrar aquela pessoa, se prender nos momentos bons, de ser tida como louca.. tô aqui lendo seus textos e me debulhando em lágrimas por me encontrar em cada situação dessas.
    Bj

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  6. Também estou impressionada com a sua história. Na verdade, vi casos parecidos naquele livro "Corações Descontrolados", da Ana Beatriz Barbosa, mas lendo você aqui, me parece muito mais real e comum do que eu imaginava. Não sou carente dessa forma. Não sei exatamente o que me faz ser tão forte em relação aos homens. Talvez o fato de eu ter tido um pai que sempre me protegeu e se preocupou muito comigo - apesar deste mesmo pai ter abusado psicológica e fisicamente (surras constantes, praticamente diárias) - conte a favor de eu não depender tanto dos homens. Pelo contrário, sou geralmente eu quem os deixo. No entanto, sou muito carente. Muito muito muito mesmo. Sinto uma falta desesperadora de estar com alguém, mas acho que acabo sabotando as possibilidades de me relacionar novamente justamente por medo de sofrer. É como se eu preferisse ficar na vida cinza e sem graça por ter medo de me queimar com as cores e fogos (que podem me queimar, e eu tenho medo) de uma relação. Não sei o que é pior. Melhoras para você e para todas nós que vivemos esse intenso sofrimento.
    Se quiserem entrar em contato comigo, meu e-mail é manuling@gmail.com (procurem no Facebook).

    Abraços!

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  7. Me identifiquei com cada linha do seu texto !! Tudo que voce fez eu também fazia, só hoje tomei conhecimento do seu blog, que pena que não escreve mais. Me senti um pouco melhor em saber que existem pessoas como eu, estou cansada de ser vista como louca psicótica por todas as pessoas com as quais me relaciono. Eu queria muito ser uma pessoa normal, mas infelizmente não pude escolher..

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