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25 de set. de 2013




Os humanos tem essa mania sofrível de sofrer por amores risíveis... Por que sofrer? Por que chorar? Se de todas as dores o amor é apenas mais uma a nos amolar? 
Difícil compreender que amores sejam feridas dolorosas que sangram por vidas inteiras... Se ao fim ao cabo nada mais simples do que simplesmente calar e ignorar a dor e simplesmente levar como uma unha encravada, ou um siso que rompe... Doer? Dói... Lógico que dói... Mas como todas as dores ela acaba acostumando e depois de certo tempo, quando deixamos de lutar, brigar, espernear e insistir em sofrer, a dor (que continua ali) passa a ser algo que remotamente registramos... Fica sendo aquela unha eternamente encravada que sempre vai perturbar quando usarmos um sapato novo – ou tentarmos amar outro alguém. Ou quem sabe aquele siso que não completa a eclosão e, quando menos esperamos, nos faz morder a gengiva nos proporcionando uma dor lancinante que nos vara o crânio como espada cruzando nossos cérebros e nos paralisando por alguns segundos... Mais ou menos como acontece quando a gente descobre que a mulher que nos deixou finalmente resolveu seguir a sua vida e, do nada surge sorrindo a nossa frente no corredor de um supermercado da vida com o olhar faiscando de gozo antecipado enquanto escolhe o vinho com o qual vai se deleitar usando a pele de sua nova amada como complemento... 
A dor de se estar diante desta cena no corredor de um mercado qualquer pode sim ser lancinante, pode nos cruzar o crânio como uma espada incandescente, despertando os sentimentos mais excruciantes de que se tem notícias... mas a verdade, meus caros, é que a dor só dói enquanto focamos nela e, nos cabe desejar ardentemente e pedir aos céus e à terra que, no momento em que tenha que haver o encontro lancinante no corredor de vinhos, sejamos capazes de sorrir, aceitar a sugestão do vinho que irá acompanhar a solidão que nos serve de frígida esposa e, nela, afogar a dor para sermos capazes de, no dia seguinte, tornarmos a esquecer o desconforto do sapato novo ou o ímpeto de nunca mais fazer compras na vida por medo de uma nova espada de flamejante realidade... 
Um dia desses alguém me disse que era mais fácil sumir da vida de alguém que enfrentar as consequências dos erros que se comete... eu, particularmente me debati, chorei, esperneei, sofri, lutei... sem sucesso... então, finalmente calei. Calei e me calo. E no silêncio me preparo para garantir que não precise experimentar sapatos novos por muito tempo e que, se precisar fazer compras, que seja capaz de sorrir o sorriso mais falso que uma homeopática dose de irônico senso de humor negro para com minha própria realidade seja capaz de produzir e que se possa juntamente prover uma suave amnésia que me permita esquecer onde guardei aquele formicida comprado no mês anterior para defender meus lírios...
Que venham as unhas encravadas e os sisos não rompidos trocando as dores lancinantes constantes, as finas e corrosivas perspectivas do desespero do SE ela vai ou não ligar pela remota possibilidade de eu ser mesmo muito azarada a ponto de cruzar no mercado com alguém que odeia fazer compras...

5 comentários:

  1. Situação difícil essa do supermercado... Eu não sei como reagiria, certamente deixaria transparecer o "incômodo", pra não dizer vontade imensurável de quebrar a garrafa de todos os vinhos existentes pra evitar o encontro amoroso noturno. Mas, enfim, dor dói e passa. E que se consiga superá-la sem se deixar estraçalhar totalmente.
    Texto massa.

    Beijo.

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    1. Ao fim ao cabo nem sempre é assim Milene.... rs na maior parte das vezes a gente se resigna a desabar internamente enquanto sorri por fora.... rs

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  2. Fantástico seu texto. Só gratidão por dividir sua experiência (comum a minha) :)

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  3. Fantástico seu texto. Gratidão por dividir a experiência (comum a minha).

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