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13 de set. de 2014

Borderline e a Auto-Imagem



Eu passei o dia inteiro lendo e vendo vídeos sobre o TPB, que me deu várias idéias para posts. O primeiro deles será falando sobre auto-imagem.
O indivíduo Borderline precisa da opinião e aceitação do outro para definir quem é. Temos um problema de aceitação e confiança em nós mesmos, fora um problema com a própria identidade. Sem saber quem somos, o outro nos define. Por isso é tão grande o problema com a rejeição, pois o abandono, real ou imaginário, significa uma perda de nós mesmos, visto que o outro muitas vezes nos define.

Queria falar um pouco da minha experiência sobre isso. Desde criança sou gordinha, muitas vezes muito gordinha, as vezes pouco. Tenho uma mãe que é muito ligada ao corpo e estas idéias acabaram por meio que me traumatizar um pouco. Sou colocada em dietas desde que me entendo por gente, desde comer só frutas à contagem de calorias diárias. Não como legumes nem verduras e, hoje em dia, os associo com dietas, pois era a única hora em que eu me via obrigada a comê-los. Sofri muito na minha pré-adolescência e adolescência, pois na escola eu sempre fui o patinho feio. As crianças colocavam apelidos em mim, riam, eu quase não tinha amigos, minhas paixonites eram sempre pelo menino mais lindo da escola, que não me dava a menor bola, obviamente. Sofria muito bullying calada, e cada vez mais acreditava que você precisava ser magra para ser feliz.

Minha mãe não me ajudava muito. Ao me colocar em intermináveis dietas, reforçava o quanto eu era imperfeita aos olhos do mundo. Até hoje, se alguém me chama de bonita, eu não acredito. Lembro de uma vez em que ela me obrigou a comer espinafre, eu querendo vomitar e ela insistindo.

Sempre me liguei aos outros excluídos das turmas, pois neles eu encontrava um pouco de aceitação. Com 15 anos me mudei de Brasília para Recife. Foi então que este bullying diminuiu um pouco, eu me aproximei de duas pessoas que também eram excluídas a seu modo, mas com a ajuda delas acabamos por construir uma estória na escola. Mas mesmo assim, nunca havia beijado ninguém.

Com 17 anos conheci meu primeiro namorado, cuja estória contei neste post aqui e para mim foi um mundo novo. Alguém que me amava, apesar de eu ser gorda! Porém eu sempre tive o medo que ele me trocasse por outra, principalmente mais bonita do que eu. Eu já morava em Curitiba nesta época. Bem, terminamos e minha insegurança aumentou. Porém tive a sorte de conhecer muitas pessoas legais que não se importavam pelo fato de eu estar acima do peso. Conheci outros meninos, beijei muito, namorei... Mas sempre com aquele pensamento que eu era gorda e que em qualquer momento iriam me deixar pelo fato de eu não me encaixar no padrões de beleza "aceitáveis".

Voltei pra Recife, foi tudo difícil pois sentia falta de meus amigos, comecei a ter a idéia fixa de me mudar até que... conheci meu ex-namorado. Ele é uma pessoa extremamente cativante, cabelo longo, toca violão, enfim. Muito político e preocupado com a opinião das pessoas, tanto que toda vez que eu contava a alguém o quanto ele era grosso e insensível, as pessoas se espantavam e diziam: "nossa, eu nunca podia imaginar!!". eu me sentia insegura 90% do tempo, como se qualquer menina com um corpinho mais esbelto pudesse tomá-lo de mim. Não ajudou muito o fato dele ter seus problemas com sexo e ficarmos 1 ano sem relações. Minha auto-estima, já baixa, foi pro chão.

E é assim que ela continua. Como falei acima, o border precisa da opinião das pessoas para definir seu "eu" e, as opiniões que eu tinha eram muito negativas. Meu ex não me elogiava muito, minha mãe... Bem, minha mãe continuou a mesma. Lembro de estar indo ao trabalho e ela me ver com um vestido e dizer algo como: "nossa, se você estivesse 5 quilos mais magra ia ficar tão melhor!" ou "murcha esta barriga!". Estes comentários acabavam com meus dias, pois me sentia feia e gorda.

Na verdade ainda me sinto assim. Mesmo tendo perdido muitos quilos nessa minha depressão, ainda me sinto feia. Tenho certeza que meu ex está com alguém mais bonita e principalmente mais magra do que eu. Olho no espelho e vejo alguém sem atrativos, nada além de belos olhos verdes (a única parte de mim que admiro). Vou para as lojas e me frustro por não terem meu número, me envergonhava em comprar roupas com meus namorados pra eles não saberem o número de minhas calças, ou não presenciarem a minha decepção por ver uma roupa e não poder comprá-la porque esta não cabia em mim.

Sei que devia terminar este longo post com uma mensagem tipo: "então eu aprendi a me amar blablabla" mas não me sinto assim no momento. Ainda me olho no espelho e vejo alguém que fisicamente e psicologicamente não merece ser amada. Ainda não acredito em elogios, nem que eu vá conseguir me ver de forma diferente, pois esta é a minha realidade. Espero que, com a terapia isso mude e que o espelho melhore a imagem que eu sempre vejo...

5 comentários:

  1. Olá, fiquei profundamente tocada pelo seu relato, é o primeiro que leio, procurando informações sobre borderline, e me identifico com sua narrativa em vários aspectos. O sentimento de inferioridade é permanente, mas em algum momento uma chave precisa ser acionada. Por que nós não nos sentimos merecedoras?? Desenvolver este merecimento, essa sensação de ter uma importância na vida - no mundo - e de se auto-respeitar, devém de um movimento interno, de buscar nas nossas profundezas esse valor, e não no externo... deixamos de nos relacionar com estas projeções, com este sentimento de frustração perante as ações dos outros. Todos os caminhos tem as suas dores, e eu muitas vezes também já me inferiorizei pela mesma condição de não estar dentro do modelo de corpo tido como "belo" pela sociedade, mas é preciso encarar essa normatividade que nos é imposta, pensar em nível histórico, mesmo, há poucos séculos atrás o padrão era outro... Eu mesma tive de refazer a relação com a minha mãe neste sentido, pois é uma violência velada e que aceitamos... Só que nosso alcance em mudar os outros é limitado, nossa maior possibilidade é mudarmos nós mesmos a maneira como nos relacionamos com tudo isto que nos oprime. Você não está só. Você é linda. Você merece. Um abraço. Beatriz

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  2. Oi, não sou border, mas tb sou gordinha no momento, nem sempre fui assim... mas minha mãe independente disso, nunca me valorizou mto na infância, por isso parei aqui para ler seu post e me solidarizei... poderia te falar que a gente tem que se amar do jeito que é tals, mas não iria funcionar, não é mesmo?!

    Todo dia começo uma nova dieta, mudo a alimentação só p tentar me encaixar nos "padrões aceitáveis" de beleza.

    Sempre compensei minha baixa alto estima enfiando a cara nos livros e nos estudos, para provar p quem quisesse que eu era capaz e provavelmente com mais conhecimento do que os outros. Nesse sentido, não precisa ser border p se preocupar com o que os outros acham da gente, salvo raras exceções, todos se importam com a imagem que os outros tem de nós.

    Queria poder te dar uma animada, mas a única coisa que posso dizer é que vc não está sozinha nessa. Espero que vc seja feliz!

    Paola Baroli

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  3. Adorei o seu relato, sei muito bem como é horrível ser rejeitada e como as pessoas podem nos ferir profundamente.

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  4. Olá meu nome é Lívia e como vc sofro de TPB e acabei fazendo um blog para desabar antes que eu enlouqueça... por favor me ajude a divulgar.
    http://sou-uma-borderline.webnode.com/

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  5. Sei exatamente o q é todos falarem : você é bonita e a gente pensar " só está falando isso porquê é meu amigo ou para me animar". Esse texto representa exatamente o que estou passando ( e sentindo ) ... bom texto.

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